Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

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UMA NOITE COM ZOE, Nº 1376 - Avril 2012

Título original: Zoe’s Lesson

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0261-2

Editor responsável: Luis Pugni

Imagem de capa: YURI ARCURS/DREAMSTIME.COM

ePub: Publidisa

Árbol

A DINASTIA BALFOUR

As jovens Balfour são uma lenda britânica, as últimas herdeiras ricas. As filhas de Oscar cresceram no centro das atenções e o sobrenome Balfour raramente deixa de aparecer na imprensa sensacionalista. Ter oito filhas tão diferentes é um desafio.

Olivia e Bella: as filhas mais velhas de Oscar são gémeas não idênticas nascidas com dois minutos de diferença e não podem ser mais diferentes. Bella é vital e exuberante, enquanto Olivia é prática e sensata. A maturidade de Olivia só pode comparar-se com o sentido de humor de Bella. Ambas as gémeas são a personificação das virtudes mais importantes dos Balfour. A morte da mãe, quando eram pequenas, continua a afetá-las, embora expressem os seus sentimentos de maneiras muito diferentes.

Zoe: é a filha mais nova da primeira mulher de Oscar, Alexandra, que morreu tragicamente ao dar à luz. Tal como a sua irmã mais velha, Bella, gosta da vida mundana e costuma exceder-se. Está sempre à espera do próximo evento social. O seu aspeto físico é imponente e os seus olhos verdes diferenciam-na das suas irmãs, mas por detrás da fachada deslumbrante esconde-se um grande coração e o sentimento de culpa pela morte da sua mãe.

Annie: é a filha mais velha de Oscar e Tilly. Annie herdou uma boa capacidade para os negócios, um coração amável e uma visão prática da vida. Gosta de passar tempo com a mãe na mansão Balfour, foge do estilo de vida dos famosos e prefere concentrar-se nos seus estudos em Oxford do que pensar no seu aspeto.

Sophie: a filha do meio é habitualmente a mais tranquila e ela não é uma exceção. Em comparação com as suas irmãs deslumbrantes, a tímida Sophie sempre se sentiu ignorada e não se sente confortável no papel de «herdeira Balfour». Tem o dom das artes e as suas paixões manifestam-se no trabalho de decoração de interiores.

Kat: a mais nova das filhas de Tilly foi protegida durante toda a vida. Depois da morte trágica do padrasto foi mimada por todos. A sua atitude teimosa e mal-educada leva-a a fugir das situações difíceis e está convencida de que nunca se comprometerá com nada nem com ninguém.

Mia: o membro mais recente da família Balfour é a filha ilegítima e meio italiana de Oscar, Mia. Resultado da aventura de uma noite entre a sua mãe e o chefe do clã Balfour, Mia foi criada em Itália e é trabalhadora, humilde e bonita de um modo natural. Para ela, foi difícil descobrir a sua nova família e a desenvoltura social das suas irmãs é difícil de igualar.

Emily: é a mais nova das filhas de Oscar e a única que teve com o seu verdadeiro amor, Lillian. Como é a mais nova da família, as suas irmãs mais velhas adoram-na, ocupa o lugar predileto no coração do seu pai e sempre foi protegida. Ao contrário de Kat, Emily tem os pés bem assentes na terra e está decidida a alcançar o seu sonho de se tornar bailarina. A pressão combinada da morte da sua mãe e a descoberta de que Mia é sua irmã tiraram-lhe as forças, mas Emily tem coragem suficiente para sair de casa do seu pai e seguir o seu caminho sozinha.

PROPRIEDADES DOS BALFOUR

O leque de propriedades da família Balfour é muito extenso e inclui várias residências imponentes nas zonas mais exclusivas de Londres, um apartamento impressionante na parte alta de Nova Iorque, um chalé nos Alpes e uma ilha privada nas Caraíbas muito solicitada pelos famosos… apesar de Oscar ser demasiado seletivo no que diz respeito a quem pode arrendar o seu refúgio. Não está ao alcance de qualquer um.

No entanto, a casa familiar é a mansão Balfour, situada no coração de Buckinghamshire. É a casa que as jovens consideram o seu lar. Com uma vida familiar tão irregular, é o lugar que proporciona segurança a todas elas. É lá que festejam o Natal juntos e, é óbvio, é lá que se celebra o baile de beneficência dos Balfour, o acontecimento do ano, ao qual as pessoas mais importantes da sociedade comparecem e que tem lugar nos jardins paradisíacos da mansão Balfour.

CARTA DE OSCAR BALFOUR PARA AS SUAS FILHAS

Queridas meninas:

Não pode dizer-se que fui um pai muito atento. Foram necessários os acontecimentos recentes e trágicos para me aperceber dos problemas que semelhante descuido causou.

O antigo lema da nossa família era validus, superbus quod fidelis. Ou seja, poderosos, orgulhosos e leais. Baseando-me no cumprimento dos dez princípios seguintes começarei a emendar-me. Vou esforçar-me para encontrar essas qualidades dentro de mim e rezo para que vocês façam o mesmo. Durante os próximos meses espero que todas levem estas regras muito a sério. As tarefas que vou pedir-vos e as viagens que vos mandarei fazer têm por objetivo ajudar-vos a encontrar-se e descobrir como se podem transformar nas mulheres fortes que têm dentro de vocês.

Minhas lindas filhas, descubram como acaba cada uma das vossas histórias.

Oscar

REGRAS DA FAMÍLIA BALFOUR

Estas regras antigas dos Balfour foram transmitidas de geração em geração. Depois do escândalo que se revelou durante a comemoração dos cem anos do baile de beneficência dos Balfour, Oscar apercebeu-se de que as suas filhas careciam de orientação e de propósito nas suas vidas. As regras da família, que ele ignorara no passado, quando era jovem e insensato, voltam a ganhar vida, modernizadas e reinstituídas para oferecer a orientação de que as suas jovens filhas precisam.

1ª regra: Dignidade: Um Balfour deve esforçar-se para não desacreditar o apelido da família com condutas impróprias, atividades criminosas ou atitudes desrespeitosas para com os outros.

2ª regra: Caridade: Os Balfour não devem subestimar a vasta fortuna familiar. A verdadeira riqueza mede-se no que entregamos aos outros. A compaixão é a posse mais valiosa.

3ª regra: Lealdade: Devem lealdade às vossas irmãs. Tratem-nas com respeito e amabilidade.

4ª regra: Independência: Os membros da família Balfour devem esforçar-se para conseguir o seu desenvolvimento pessoal e não contar com o seu apelido ao longo de toda a vida.

5ª regra: Coragem: Um Balfour não deve ter medo de nada. Se enfrentarmos os nossos medos com coragem, conseguiremos descobrir coisas novas sobre nós próprios.

6ª regra: Compromisso: Se fugirmos uma vez dos nossos problemas, continuaremos a fugir eternamente.

7ª regra: Integridade: Não devemos ter medo de conservar os nossos princípios e devemos ter fé nas nossas próprias convicções.

8ª regra: Humildade: Há um grande valor em admitir as nossas fraquezas e trabalhar para as superar. Não podemos descartar os pontos de vista dos outros só porque não concordam com os nossos. Um autêntico Balfour é tão capaz de aceitar um conselho como de o dar.

9ª regra: Sabedoria: Não devemos julgar os outros pelas aparências. A verdadeira beleza está no coração. A sinceridade e a integridade são muito mais valiosas do que o simples encanto superficial.

10ª regra: O apelido Balfour: Ser membro desta família não é só um privilégio de berço. O apelido Balfour significa apoiar os outros, valorizar a família como nos valorizamos e usar o apelido com orgulho. Rejeitar o nosso legado é rejeitar a nossa própria essência.

Para Maggie, uma grande amiga de Nova Iorque.

CAPÍTULO 1

Max Monroe observou as cerejeiras em flor que havia do outro lado da janela. O consultório era em Park Avenue. Os botões estavam abertos, suaves e rosados. Pestanejou. Os botões estavam colados uns aos outros formando uma massa cor-de-rosa indiscernível ou estava a imaginar?

Voltou a virar-se para o médico, que sorria com compaixão. Quando Max falou, fê-lo num tom deliberadamente firme.

– De quanto estamos a falar, um ano? – engoliu em seco. – Seis meses?

– É difícil saber – o doutor Ayers olhou para o relatório que relatava a perda de visão de Max com algumas frases clínicas. – A doença de Stargardt não é um processo previsível. Como sabes, muitas vezes descobre-se na infância, mas a tua descobriu-se recentemente – encolheu ligeiramente os ombros. – Podes ter alguns meses de visão imprecisa, perda de visão central, desmaios repentinos… – parou.

– Ou? – perguntou Max, abrindo a porta a várias possibilidades não desejadas.

– Ou pode ser mais rápido do que isso. Podes sofrer uma perda de visão quase completa numa questão de semanas.

– Semanas – Max repetiu a palavra com frieza e voltou a lançar o olhar para as árvores em flor.

Talvez não voltasse a vê-las, talvez não presenciasse como as pétalas cor-de-rosa se tornavam castanhas e se enrugavam antes de caírem desconsoladamente ao chão.

Semanas.

Max levantou a mão para parar as palavras de simpatia do médico. Não queria compaixão.

– Por favor – disse, em voz baixa, sentindo um repentino nó na garganta.

O doutor Ayers abanou a cabeça e deixou escapar um suspiro.

– O teu caso é único, já que o traumatismo craniano que sofreste no acidente pode exacerbar ou acelerar as condições da doença. Muitas pessoas que padecem dela conseguem sobreviver…

– Enquanto outras ficam cegas – Max completou a frase com frieza.

Investigara quando a escuridão começara a toldar a sua visão. Isso fora há três semanas, mas parecia toda uma vida.

O médico voltou a suspirar e agarrou num folheto.

– Viver com perda de visão é um desafio…

Max deu uma gargalhada amarga. Um desafio? Gostava de desafios. Perder a visão não era um desafio, era devastador. A escuridão completa, como a que sentira no passado quando o medo se apoderara dele, quando ouvira os gritos… Abandonou aqueles pensamentos e recusou-se a perder-se nas lembranças. Seria muito fácil e depois não conseguiria encontrar o caminho de regresso.

– Podias entrar em contacto com algum grupo, ajudar-te-ia a habituar-te a…

– Não – Max afastou o folheto e obrigou-se a olhar nos olhos do médico.

Inclinou a cabeça para conseguir ver o seu rosto impreciso com visão periférica, com a qual os seus olhos se sentiam mais confortáveis. Pestanejou, como se isso o ajudasse. Como se pudesse mudar alguma coisa. O mundo já estava desfocado, a suavizar-se e escurecer nos extremos como uma fotografia antiga. E quando já não conseguisse ver, quando o pano de fundo tivesse caído definitivamente, a realidade também seria como uma fotografia antiga, imprecisa e distante, difícil de recordar e que desapareceria com o tempo? Como ia suportar a escuridão sem fim? Sentira-a antes e não queria voltar a enfrentá-la, mas não tinha alternativa. Nenhuma.

Max abanou a cabeça para bloquear aquela ideia e também a sugestão do doutor Ayers.

– Não estou interessado em juntar-me a nenhum grupo – assegurou, com firmeza. – Ocupar-me-ei disto à minha maneira. Obrigado – disse, levantando-se da cadeira.

Doía-lhe a cabeça e sentia dores na perna. Durante um instante, sentiu-se enjoado e tentou apoiar-se no canto da secretária do médico. Falhou e acariciou o ar com a mão, praguejando.

– Max…

– Estou bem – endireitou-se e deitou os ombros para trás ao estilo militar.

A cicatriz que lhe percorria a cara descia desde o extremo da sobrancelha direita até à boca, passando pelo nariz.

– Obrigado – voltou a dizer antes de sair do consultório com passos cuidadosos.

Do outro lado da janela, uma pétala de seda caiu indolentemente ao chão.

Zoe Balfour estendeu o xaile, que era apenas um pedacinho de seda com lantejoulas, à mulher que estava no guarda-roupa e, depois, passou a mão pelo cabelo artificialmente encaracolado. Deitou os ombros para trás e ficou por um instante à entrada de Soho à espera que as cabeças se virassem. Precisava que o fizessem, procurava atenção e elogios. Precisava de se sentir como sempre, como se o seu mundo não tivesse mudado quando os jornais tinham publicado a história da sua origem ilegítima há três semanas. Então, o mundo, o seu mundo, sustivera a respiração e ela deixara de saber quem era.

Respirou fundo e entrou na galeria de arte, tirando um copo de champanhe da primeira bandeja que encontrou. Bebeu um gole e apercebeu-se de que as cabeças se viravam, mas agora não sabia porquê. Devia-se ao facto de uma mulher bonita ter entrado na festa ou a saberem quem era… e quem não era?

Zoe bebeu um gole do seu copo de champanhe, como se o álcool conseguisse dissolver a angústia que se alojava na sua alma, apesar das suas tentativas de se divertir, de esquecer. Sentia medo e desespero desde que os jornais tinham revelado a história da sua vergonha e mais ainda desde a sua chegada a Nova Iorque há três dias, porque o seu pai lhe telefonara. Não, corrigiu-se Zoe mentalmente. O seu pai não, Oscar Balfour, o homem que a criara.

O seu pai estava ali, em Nova Iorque.

Naquela tarde, reunira finalmente coragem para parar no exterior do arranha-céus brilhante da rua Cinquenta e Sete, à espera de encontrar o homem que fora ver. Andara de um lado para o outro nervosamente, beberá três cafés e até roera as unhas. Duas horas depois, continuava sem aparecer, e Zoe voltara para o apartamento de águas-furtadas que os Balfour tinham em Park Avenue sentindo-se uma impostora e uma trapaceira.

Porque ela não era uma Balfour.

Durante vinte e seis anos descansara na certeza de que era uma Balfour, membro de uma das famílias mais antigas, poderosas e ricas de Inglaterra e da Europa. E, de repente, descobrira, ainda por cima através da primeira página dos jornais de mexericos, que pelas suas veias não corria nenhuma gota de sangue Balfour.

Não era ninguém. Era uma bastarda.

– Zoe! – a sua amiga Karen Buongornimo, a organizadora da inauguração da galeria, apoiou uma face maquilhada na sua. – Estás espetacular, como sempre. Vens disposta a brilhar?

– É óbvio – Zoe sorriu. Esperava ter sido a única a perceber o tom irritado. – Brilhar é o que faço melhor.

– Sem dúvida – Karen deu-lhe um pequeno apertão no ombro e Zoe fez um esforço para sorrir. A cara doeu-lhe ao tentá-lo. – Tenho de agradecer aos nossos patrocinadores, incluindo Max Monroe.

Karen revirou os olhos e Zoe elevou as sobrancelhas, tentando agir como se aquele nome significasse alguma coisa para ela.

– É o solteiro mais cobiçado da cidade, mas esta noite não está a ganhar muitos pontos – esclareceu Karen.

Zoe bebeu outro gole do seu champanhe. Segundo parecia, havia outra pessoa que também não estava a divertir-se, pensou, embora uma parte do seu cérebro continuasse a insistir que estava a divertir-se. Ela era sempre a alegria da festa e o acidente do seu nascimento não ia mudar isso.

– Está num canto com má cara. Parece que tem uma nuvem negra em cima da cabeça. Não está precisamente comunicativo – Karen fez beicinho. – Penso que consumiu uma boa dose de champanhe, mas continua a ser muito sensual. A cicatriz fica-lhe bem, não te parece?

– Receio que não veja o homem de que falas – respondeu Zoe, olhando à sua volta. Sentia curiosidade.

– É difícil não o ver – assegurou Karen. – É aquele que parece ter um ar torturado. Teve um acidente há aproximadamente um mês e desde então nunca mais foi o mesmo. Uma pena – deixou o copo numa bandeja vazia e beijou ambas as faces de Zoe. – Bom, tenho de ir atrair a atenção das pessoas.

Zoe sorriu sem vontade e bebeu outro gole do seu copo de champanhe enquanto via como a sua amiga abria caminho entre os convidados. Normalmente, era ela que entrava entre a multidão, mas não encontrava a energia nem a vontade de conversar e namoriscar. A única coisa que parecia capaz de fazer era recordar.

Um escândalo põe em perigo o legado dos Balfour:

O sangue azul não é assim tão azul!

Os títulos dos jornais repetiam-se na sua mente desde que um jornalista conseguira infiltrar-se no baile de beneficência dos Balfour e ouvira a discussão das suas irmãs. Elas tinham descoberto a verdade sobre o nascimento de Zoe no diário da sua mãe. Oxalá nunca tivessem aberto aquele velho caderno, pensou ela. Desejava poder esquecer a verdade que já nunca a abandonaria.

A dor e a vergonha eram demasiado fortes para enfrentar, portanto não o fez. Aceitava todos os convites, ia a todas as festas para tentar esquecer a vergonha do seu nascimento. Procurara os seus amigos mais divertidos e agira como se não se importasse. Mas estava paralisada, intumescida. Maravilhosamente intumescida.

Oscar permitira durante duas semanas que mal estivesse em casa, que chegasse de madrugada e passasse o dia a dormir. Depois, chamara-a ao seu escritório, aquele santuário de mogno e couro em que flutuava o cheiro a tabaco de cachimbo. Sempre gostara daquela divisão tão masculina e das lembranças das tardes aninhada na poltrona do seu pai, a ler enciclopédias e a sonhar com lugares longínquos e nomes de plantas e animais exóticos.

Mas naquela tarde não leu nenhuma enciclopédia. Limitou-se a ficar à porta com o rosto pálido e uma boa ressaca.

– Zoe – o seu pai virara-se na cadeira para olhar para ela com a compaixão de um desconhecido, pensou ela, não com um sentimento paternal, – isto não pode continuar assim.

Zoe engolira em seco e encolhera ligeiramente os ombros. Doía-lhe a cabeça.

– Não sei o que…

– Zoe – repetira ele, com mais firmeza, – passaste duas semanas de festa em festa, sabe Deus a fazer o quê…

– Tenho vinte e seis anos – respondera ela, mal-humorada. – Posso fazer o que quiser.

– Não na minha casa e não com o meu dinheiro – afirmara Oscar com tal dureza no olhar que Zoe baixara o dela. – Sei que a história que esse jornal asqueroso contou te magoou, mas…

– Não é uma história – interrompeu-o ela, olhando para ele, desafiante. – É a verdade.

Oscar ficara em silêncio durante um instante, um instante muito comprido.

– Oh, Zoe – dissera finalmente, abanando a cabeça. – É isso? Achas que importa?

– É óbvio que importa – replicara ela, em voz baixa. – Importa para mim.

– Bom, asseguro-te que a mim não – respondera Oscar, com firmeza. – Se queres que te seja sincero, suspeitava-o desde antes de tu nasceres.

– Como? – Zoe recuara como se lhe tivessem dado uma bofetada. – Tu sabias?

– Suspeitava-o – respondera ele, num tom pausado. – A tua mãe e eu… bom, há muito tempo que a tua mãe e eu não éramos felizes e…

– Soubeste-o durante todo este tempo e nunca pensaste em contar-me? – Zoe abanara a cabeça e engolira as lágrimas de fúria.

– Porque havia de to dizer? – perguntara ele, com ternura. – És a minha menina, sempre foste.

Zoe limitara-se a voltar a abanar a cabeça, era incapaz de parar a onda de sentimentos que a atravessava. Como ia explicar ao seu pai que importava? Não era uma Balfour. Aquele não era o seu lugar.

– Sei que isto é difícil para ti – continuara Oscar, num tom torturado. – Numa questão de meses perdeste a tua madrasta, descobriste que tens outra irmã…

– Não tenho – Zoe olhara para o seu pai diretamente nos olhos. – Mia não tem o meu sangue.

Custava-lhe dizê-lo. Há algumas semanas que ela e as suas irmãs tinham descoberto que Oscar tivera uma aventura antes de se casar com Lillian e tinham conhecido a filha resultante daquela aventura de uma noite. Mia descobrira que era uma Balfour enquanto Zoe descobrira que ela não era. A ironia era amarga.

– Não é uma questão de sangue – apontara Oscar. – Sei que cometi muitos erros ao longo dos anos, Zoe, mas, certamente, sabes que te amo e sentes que fui um pai para ti.

Os olhos dela tinham-se enchido de lágrimas e afastara a cara.

– Mas não sou uma Balfour.

Oscar ficara em silêncio durante um longo instante.

– Entendo – dissera finalmente, num tom dececionado. – Trata-se só do apelido. Estás preocupada com o que os outros vão dizer?

Zoe corara e virara-se para ele novamente.

– E se for assim? Não é a tua fotografia que aparece nas páginas de todos os jornais de mexericos.

– A verdade é que sim e também a das tuas irmãs – Oscar suspirara. – Vejo a minha intimidade e os meus erros divulgados e estou a aprender a manter a cabeça erguida, apesar de tudo. Espero que tu também o faças, porque nem o teu apelido nem o sangue que corre pelas tuas veias mudam quem és.

Zoe não dissera nada, mas no fundo sabia que não era assim. Quando era criança, sempre se sentira diferente, como se aquele não fosse o seu lugar. Pensava que se devia ao facto de Bella e Olivia serem gémeas e terem um vínculo que ninguém podia quebrar. Ou talvez se devesse ao facto de ser a única que não tinha lembranças da sua mãe, já que Alexandra morrera quando ela nascera. Emily tinha Lillian, que todos adoravam. Kat, Sophie e Annie tinham a sua mãe, Tilly, que as outras também amavam.

Zoe não tinha ninguém. Não tinha uma mãe própria. E agora entendia porque se sentia tão diferente. Aquele não era o seu lugar. Não se tratava só de uma sensação, era a verdade.

– Quero que vás a Nova Iorque – dissera Oscar, tirando uma pasta de couro da gaveta.

Lá dentro havia um bilhete de avião em primeira classe.

– Podes ficar o tempo que quiseres no apartamento.

Ela pegara na pasta.

– Porque queres que vá? – perguntara.

Oscar suspirara e esfregara a sobrancelha.

– Eu também li o diário da tua mãe, Zoe, e pelas coisas que escreveu tenho uma ideia de quem… de quem pode ser o teu pai biológico – concluiu.

Zoe ficara tensa.

– Sabes? Quem é?

Oscar apontara para a pasta.

– Os detalhes estão aí. Vive em Nova Iorque e penso que te fará bem sabê-lo… e talvez até procurá-lo – sorrira com uma certa tristeza. – És mais forte do que pensas, Zoe.

Ela não se sentira forte, nem se sentia forte naquele momento. Sentia-se destroçada, demasiado fraca para olhar para o homem que fora procurar. Demasiado assustada para falar com alguém naquela festa.

Bebeu outro gole do seu copo de champanhe. Coragem. Deus sabia que precisava dela.

Max observou as pessoas reunidas na galeria de arte. Era uma massa de formas brilhantes e imprecisas. A sua visão piorara desde que saíra do consultório médico há algumas horas ou tratava-se de um efeito psicológico? Seria a sua mente que queria fazê-lo pensar que via menos?