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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Harlequin Books S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O preço de um amor, n.º 782 - Janeiro 2016

Título original: Name Your Price

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7769-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Wine Country CouRier

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

Se gostou deste livro…

Wine Country CouRier

 

Crónica Rosa

 

A saga dos Ashton chega ao seu fim

 

Finalmente foi resolvido o caso do assassinato do magnate Spencer Ashton. Quem teria pensado que por trás de um acto tão cruel estaria a sua própria filha, Grace Ashton? O marido da mesma, que foi quem apertou o gatilho, e ela estão já atrás das grades e pela primeira vez em muitos meses os Ashton podem respirar tranquilos.

No entanto, a disputa pela fortuna do milionário continua. Eli e Trace, filhos do segundo e terceiro matrimónio de Spencer Ashton, permanecem empenhados em que a justiça decida quem são os herdeiros legítimos de dita fortuna. Terminarão algum dia as quezílias e os escândalos desta família?

Diz quem o conhece que Trace tem um coração de pedra, embora segundo pareça nem sempre tenha sido assim. Contam que há anos ia casar com uma jovem chamada Becca Marshall e que, por considerá-la imprópria para ele, o seu pai ofereceu uma soma substancial à rapariga para o abandonar. Segundo parece, ela aceitou, partindo o coração a Trace.

Contam também que Becca voltou ao Vale de Napa, e que Trace está a planear cuidadosamente a sua vingança. Como acabará tudo isto?

Prólogo

 

Quando a bala atingiu Spencer Ashton no peito, este soube que ia morrer.

Antes desse momento nunca tinha pensado que um dia chegaria a hora da morte. A sua arrogância e o seu orgulho levaram-no a negar-se a dedicar-lhe sequer um pensamento.

Afinal estava ainda na flor da vida aos sessenta e dois anos. Continuava a ser um homem atractivo, não tinha perdido um ápice da sua agilidade mental, e tinha amealhado uma fortuna com a qual outros só podiam sonhar.

Também tinha conseguido tudo o que sempre tinha desejado… e ainda mais: tinha conduzido carros caros, vivido em casas elegantes, mantido aventuras sexuais com as mulheres mais bonitas… Para ser o filho de um casal de lavradores de uma pestilenta povoação do Nebraska, a vida não lhe tinha corrido nada mal. Que importava se para chegar onde tinha chegado tinha tido que passar por cima de uns quantos insectos insignificantes?

Ainda aturdido, alçou a vista para Wayne Cunningham, a sanguessuga que tinha apertado o gatilho, e depois virou a cabeça para a mulher que estava de pé junto a ele. A sua própria filha…

Os olhos de Grace, fixos nele, cintilavam com um brilho gélido.

Spencer baixou a vista para a mão que agarrava o peito e viu o sangue filtrando-se entre os seus dedos; um regueiro de um vermelho intenso que emanava incessante sobre a sua gravata de seda Armani.

Tentou falar, mas o único som que saiu da sua garganta foi um gemido abafado.

– Que disseste, paizinho? – perguntou-lhe Grace num tom que destilava ódio.

Chegou-se ao cadeirão de couro em que estava sentado, e com um sorriso cruel nos lábios agachou-se para lhe dizer ao ouvido:

– O gato comeu-te a língua?

– Grace…

O seu nome foi a única palavra que pôde articular antes de sentir que se afogava com o sangue que estava a inundar-lhe os pulmões.

– O único que queria era o que me correspondia por direito – resmungou Grace afastando-se dele enquanto batia no peito com um punho. – Caramba! O Grant e eu mal tínhamos nascido quando nos abandonaste. Tivemos que viver com as ajudas que nos dava a paróquia e vestir roupa de segunda mão enquanto tu te voltaste a casar sem te teres divorciado da nossa mãe, vivias numa grande mansão e vestias fatos feitos à medida.

Spencer olhou para a sua filha com a vista nublada pela dor. Tinha estado a dar dinheiro àquela cadela e ao seu marido durante anos para que mantivessem a boca fechada a respeito do seu primeiro casamento, mas depois da imprensa o ter descoberto, meses atrás, parecera-lhe que já não fazia sentido algum continuar a pagar-lhes.

Quando aquele idiota puxou da pistola não imaginou que teria a coragem suficiente para usá-la.

Tinha sido um grave erro subestimá-lo, e por isso ia pagar com a vida.

Wayne movia-se inquieto pelo gabinete.

– Gracie, querida, deveríamos sair daqui antes que apareça alguém.

Grace voltou-se para ele com expressão irritada.

– O escritório fechou há uma hora; foram todos para casa – replicou ela. Virou-se de novo para Spencer e sorrindo com malevolência, acrescentou: – não vai aparecer ninguém.

– Eu sei, querida, mas ainda assim…

O sorriso esfumou-se de imediato dos lábios de Grace.

– Iremos quando tiver terminado, caramba, não antes – afirmou. Apoiou as mãos na mesa do pai, inclinou-se para a frente e olhou-o nos olhos. – Mas tu, canalha egoísta sem coração, nem sequer com isso te deste por satisfeito. Tiraste à Caroline Lattimer tudo o que ela possuía, abandonaste-a e aos seus filhos e voltaste a casar de novo.

Lilah, a sua terceira esposa, provavelmente a única mulher que o tinha compreendido, pensou Spencer, quiçá porque era tão ambiciosa como ele. Tinha sido uma esposa obediente, uma mulher atractiva na juventude, tinha-lhe dado um filho e duas filhas, e até tinha tolerado as suas aventuras…. inclusive a última com a sua secretária, Alyssa Sheridan. Alyssa ficara grávida e tivera um filho, um menino a que tinha chamado Jack e que ele já não veria crescer.

– Agora estás a pagar por tudo isso, filho da mãe – ouviu Grace dizer.

No entanto parecia que a sua voz lhe chegava de muito longe e um frio gélido deslizou pelas suas veias. O tempo pareceu ficar mais lento e a sua visão começou a escurecer.

Todos os pecados que tinha cometido ao longo da vida foram passando pela sua mente numa rápida sucessão de rostos e imagens, como um filme filmado a câmara rápida.

O frio e a escuridão envolveram-no, e ao mesmo tempo que exalava o seu último fôlego, Spencer Ashton soube que apodreceria para sempre no inferno.

Capítulo Um

 

Não podia dizer-se que tivesse sido apanhado de surpresa. Há já vários dias que Trace sabia que Becca estava na cidade. Tinha ouvido as pessoas murmurarem sobre esse assunto nas suas costas em mais de uma ocasião.

Não tinha a certeza do que o fizera virar a cabeça para a janela da pequena cafetaria no outro lado da rua. Quiçá tivesse sido a sua melena castanha, ou quiçá a elegante maneira em que gesticulava enquanto falava com uma pessoa que não conseguia ver.

Não, não tinha sido nenhuma dessas duas coisas, pensou enquanto olhava para ela. Antes mesmo de a ter visto pelo canto do olho tinha intuído que estava ali, tinha sentido a sua presença.

Ao dar-se conta de até que ponto continuava a exercer aquele poder sobre ele, foi sacudido por uma rajada de ira, mas obrigou-se a deixar de lado as suas emoções. Não ia permitir que o regresso de Becca o afectasse. O caso deles já era coisa do passado, história. Tinham decorrido cinco anos e nessa altura ambos eram muito jovens: ela tinha vinte anos quando se comprometeram e ele acabava de fazer vinte e um.

Além de tudo o que tinha ocorrido nos últimos meses: o assassinato do seu pai, a detenção e a confissão da sua meia-irmã, as quezílias familiares… voltar a atormentar-se com o que poderia ter sido e não foi era o último de que necessitava.

No entanto, não podia negar que a passagem dos anos tinha sido benevolente para com Becca. As luzes natalícias coloridas que decoravam a janela da cafetaria davam à pele do seu rosto um brilho etéreo, e as suas feições, mais adultas, tinham ganho em beleza.

De repente deu por si a recordar o som do seu riso, a suavidade da sua pele, o doce sabor dos seus lábios… um sabor que a traição tinha tornado amargo.

Por amor de Deus, tinha ido à cidade para jantar com a sua irmã, não para desenterrar o passado.

Observou Becca sorrir para o seu interlocutor, e ao ver a covinha que se formou na sua face apertou os dentes, deu a volta e começou a andar. Becca pertencia ao passado, repetiu para si próprio, já não significava nada para ele.

 

 

O Natal sempre tinha sido uma época mágica no Vale de Napa. As luzes nas montras das lojas, as renas e o Pai Natal animados no telhado da fábrica McIntye, o enorme abeto decorado no centro histórico da cidade…

Becca inspirou profundamente, meteu as mãos nos bolsos do casaco, e começou a andar de novo rua abaixo. Estava contente por estar de volta.

Algumas lojas tinham fechado e no seu lugar tinham aberto outras novas, mas a mudança era algo inevitável, pensou. Podias resistir a ela, negar-te a aceitá-la, mas por muito que o tentasses não poderias detê-la. A mudança era algo inerente à própria vida.

Deteve-se diante da montra de uma loja de presentes, onde um boneco de neve dançava. Lá dentro uma menininha arruivada apontava para ele, o que provocava o riso do seu pai.

Por sorte havia coisas que nunca mudariam, pensou observando o brilho de ilusão nos olhos da catraia.

Voltou-se para seguir o seu caminho, mas ao fazê-lo chocou com alguém, que a agarrou pelos ombros para a segurar para que não caísse para trás.

– Desculpe – pediu Becca aturdida, levantando a cabeça, – não o…

Ao ver o rosto do homem com quem tinha chocado ficou petrificada. «Oh, meu Deus… Trace…»

Aqueles olhos verdes, aquele cabelo castanho… tê-lo-ia reconhecido ainda que tivessem passado dez anos em vez de cinco.

– Olá, Becca – cumprimentou-a com a testa franzida e os olhos arregalados.

Desde que tinha chegado a Napa tinha consciência de que havia a possibilidade de que se encontrassem, mas nunca imaginou que tropeçaria com ele tão rapidamente… e literalmente, além disso.

Tinha passado semanas preparando-se para este momento, visualizando-se a si mesma muito digna e calma, com a situação sob controlo. Tinha imaginado exactamente o que lhe diria, como lhe sorriria, e até que tom de voz empregaria… um tom despreocupado que não se parecia em nada ao sussurro que abandonou os seus lábios nesse momento:

– Trace…

As suas mãos ainda a agarravam pelos braços e, através do casaco, Becca sentiu o calor que irradiavam. O coração batia-lhe com força nas costelas e os batimentos ressoavam aos seus ouvidos. Que parva tinha sido ao pensar que poderia preparar-se para tal encontro!

Finalmente Trace soltou-a e Becca pôde voltar a respirar.

– Des… desculpa – balbuciou, – não te tinha visto.

– Com que então eram verdadeiros os rumores de que estavas de volta – verbalizou ele.

Becca meteu as mãos nos bolsos, temerosa de que Trace visse como lhe tremiam.

– Estou aqui porque me encomendaram uma reportagem fotográfica para as adegas Ivy Glen.

– Foi o que ouvi.

– Oh – murmurou Becca.

No entanto não a surpreendia; no vale de Napa todos os que se dedicavam ao negócio do vinho se conheciam. Perguntou-se que mais teria ouvido e quanto de verdade existiria no que tivesse ouvido.

– Bom e… como… como estás?

A pergunta não pôde parecer mais ridícula, mas ainda estava tão aturdida que isso foi o único que lhe tinha ocorrido.

– Bem. E tu?

– Bem, bem.

– Passou muito tempo, Becca.

Ela assentiu em silêncio enquanto estudava o seu rosto, maravilhando-se de como aqueles cinco anos tinham mudado as suas feições. Os rasgos juvenis tinham desaparecido, dando lugar a outros mais varonis, mais adultos.

Outras coisas no entanto não tinham mudado, pensou. O seu intenso olhar continuava a fazer com que lhe tremessem os joelhos e que estremecesse toda por dentro.

Há cinco anos atrás, ao vê-lo, ter-se-ia lançado aos seus braços, rindo, e tê-lo-ia beijado. Há cinco anos atrás, ele teria sorrido também e ter-lhe-ia devolvido o beijo, sussurrando-lhe depois algo ao ouvido que a teria feito ruborizar-se de prazer.

– Os meus pêsames pelo teu pai – disse-lhe. Todos os jornais e canais de televisão de Los Angeles tinham seguido durante esses sete meses o caso do homicídio de Spencer Ashton. – Ia ligar-te quando soube, mas…

– Mas o quê?

«Mas fui uma cobarde».

– Não queria incomodar.

– Entendo.

Becca sentiu uma pontada ao ouvir o sarcasmo na sua voz. Teria querido estender a mão para ele, dizer-lhe que não entendia nada, mas não se atreveu. Não teria podido suportar se Trace se tivesse afastado dela para evitar que lhe pudesse tocar.

– Pensei que as minhas condolências não seriam bem recebidas – disse-lhe calmamente, – sobretudo tendo em conta o que ocorreu entre nós.

Trace apertou os lábios.

– Foste tu que te foste embora, não eu.

Era verdade, mas aquele não era o lugar mais apropriado para discutir aquilo, em plena rua, pensou Becca. A verdade era que também não se tratava de que quisesse falar disso com ele em nenhum outro lugar nem em nenhum outro momento.

– Trace, por favor…

Ele ficou calado, escrutinando o seu rosto. Há cinco anos atrás, só de olhá-lo, Becca teria podido adivinhar em que estava a pensar, que estava a sentir, mas as feições do homem que tinha à sua frente nesse momento eram como uma fortaleza inexpugnável. Tinha-se convertido numa pessoa distinta; alguém a quem mal reconhecia. Claro que também ela tinha mudado.

– Ouvi dizer que a tua mãe comprou o pub – disse Trace de repente.

– Trabalhava lá há quinze anos – respondeu ela, aliviada por ele ter mudado de tema, – era natural que o dono lhe cedesse o negócio quando se retirasse. Esteve a remodelá-lo e na semana que vem vai fazer uma festa de reabertura.

Os nervos estavam a fazer com que falasse de mais. A família de Trace possuía uma das maiores e mais prósperas adegas do Vale de Napa. Duvidava que se interessasse o mais mínimo pela festa de reabertura de um pequeno pub.

– Estás alojada em casa da tua mãe?

– Sim porque só vou ficar duas ou três semanas; até que acabe o trabalho.

– A Ivy Glen é uma das adegas mais importantes de Napa. Deves tê-los impressionado para que te tenham contratado.

Becca encolheu os ombros.

– Sinto-me agradecida de que me tenham dado uma oportunidade.

Trace não disse nada, mas continuou a olhá-la fixamente e Becca, incomodada, mudou o peso de uma perna para a outra. Era tão estranho ter Trace frente a si depois de cinco anos e que estivessem a manter uma conversa tão educada e superficial…

– Tenho de ir-me embora – disse-lhe.

Ele assentiu e desviou-se para um dos lados.

– Cuida-te, Becca.

– Tu também, Trace.

As pernas de Becca tremiam como se fossem de borracha, mas de algum modo logrou manter a compostura e afastar-se com passo lento e calmo em vez de desatar a chorar e a correr.

 

 

Com os punhos apertados nos bolsos, Trace deteve-se a uns passos do restaurante onde tinha combinado encontrar-se com a sua irmã e inspirou profundamente. Não podia entrar no estabelecimento e sentar-se junto da sua irmã furioso como estava nesse preciso momento, com o sangue a ferver-lhe nas veias e um apertado nó no estômago.

Como podia ter sido tão estúpido? Por acaso tinha pensado que olhando-a nos olhos e mantendo uma conversa civilizada com ela ia conseguir que desaparecesse a raiva que tinha estado a devorá-lo durante esses derradeiros cinco anos?

Não só não fora sido assim, como se sentia ainda mais magoado e frustrado.