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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Harlequin Books S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Herança de infâmia, n.º 57 - Setembro 2016

Título original: An Inheritance of Shame

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8845-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Já era dele. Bom, quase dele… No dia seguinte, Angelo Corretti ia assinar os documentos que transferiam a propriedade do Hotel Corretti Palermo da empresa Corretti Enterprises para a Corretti Internacional, o seu grupo empresarial. Parecia-lhe muito irónico que passasse de um Corretti para outro. Contudo, na verdade, não eram o mesmo. Passeou pelo vestíbulo do hotel.

Os bagageiros reconheceram-no e endireitaram-se imediatamente. A rececionista também olhou para ele com um pouco de apreensão, parecia estar pronta para responder se ele a abordasse. Ainda não se apresentara a nenhum dos empregados do hotel, mas era claro que todos sabiam quem era. Entrara e saíra dos escritórios da empresa Corretti durante quase uma semana, organizando reuniões com os principais acionistas. Não tinham tido outro remédio senão entregar-lhe as rédeas do hotel mais importante da empresa hoteleira. Afinal de contas, o diretor-geral continuava ausente e Angelo tinha a maioria das ações. No fim, fora tudo muito mais simples do que previra. Sabia que bastava deixar os Corretti a sós durante um tempo para que acabassem por discutir entre eles. Não pareciam ser capazes de o evitar.

– Senhor? Senhor Co… Corretti? – cumprimentou-o a rececionista, aproximando-se dele.

Não o surpreendeu que lhe custasse dirigir-se a ele. Afinal de contas, estavam na Sicília e, ali, os Corretti eram a família mais conhecida e poderosa. Para além de protagonizar todo o tipo de escândalos. Mas sentia que não era um deles. «Embora sejas», recordou-se Angelo.

Sem conseguir evitá-lo, sentiu como uma raiva que já lhe parecia muito familiar percorria o seu corpo. Ele era um deles, mas oficialmente, nunca fora. Nunca o tinham reconhecido como tal, apesar de todos saberem a verdade sobre o seu nascimento. Crescera numa aldeia e, desde a infância, quando nem ele próprio entendia bem o que significava, soubera que era o filho bastardo de Carlo Corretti. Um facto que fizera com que a sua vida fosse um inferno. Virou-se para a rececionista e esforçou-se para sorrir.

– Sim?

– Há algo que possa fazer por si? – perguntou a mulher, com incerteza.

Parecia estar assustada, como se temesse que mudasse tudo no hotel e despedisse todos. E, em parte, tinha vontade de o fazer. As pessoas que trabalhavam ali tinham sido leais a uma família que desprezava profundamente e que estava decidido a arruinar.

– Não, obrigado, Natalia – replicou, olhando para a placa com o nome dela. – Vou para o meu quarto.

Reservara a suíte das águas-furtadas para aquela noite. Tinha a intenção de desfrutar da sua estadia no quarto mais luxuoso do melhor hotel do inimigo. A suíte que Matteo Corretti costumava usar. Mas, depois da derrota do casamento do século entre as famílias Corretti e Battaglia, Matteo fugira com a namorada e ninguém sabia onde estava. Além disso, já não ia poder voltar àquela suíte. Assim que assinasse o contrato no dia seguinte, só ele poderia usá-la quando quisesse. Nenhum outro Corretti voltaria a hospedar-se naquele hotel. Só ele, Angelo Corretti.

– Muito bem, senhor Corretti – afirmou a rececionista, com mais segurança.

Mas isso não fez com que se sentisse melhor. Sempre fora um Corretti e reclamara o seu direito de usar esse apelido, embora o pai nunca tivesse querido reconhecê-lo como filho e apesar de ter tido de lutar desde pequeno para o poder usar. Embora odiasse a família Corretti, conquistara o direito de o usar. Esboçou um último sorriso para a rececionista e dirigiu-se para os elevadores.

Era meia-noite e o vestíbulo estava quase deserto. Embora fosse muito tarde, sabia que ia custar-lhe a adormecer. Ficou a observar a vista que tinha do andar superior do hotel. Conseguia ver toda a cidade e o porto.

Sempre lhe custara adormecer. Com frequência, não chegava a dormir mais de duas ou três horas por noite e nem sempre de forma consecutiva. Preenchia as noites a trabalhar ou a fazer exercício, qualquer coisa para manter o corpo e o cérebro ocupados, para não ter de pensar.

As portas do elevador abriram-se diretamente quando chegou à suíte. Era luxuosa e ocupava todo o andar superior do hotel. Olhou à volta, reparando em todos os detalhes. O chão era de mármore e um lustre de cristal iluminava o vestíbulo. A suíte estava decorada com antiguidades e obras de arte muito caras. Deixou cair a chave eletrónica numa mesa auxiliar, afrouxou a gravata e tirou o casaco. Sentiu o começo de uma dor de cabeça que se transformaria numa enxaqueca em poucas horas. As enxaquecas e a insónia faziam parte do preço caro que tivera de pagar para chegar onde chegara, mas não se arrependia. Faria qualquer coisa para estar onde estava e ser quem era. Alguém com poder suficiente para se vingar dos Corretti.

Aproximou-se das janelas grandes do salão. Dali, conseguia ver as luzes da cidade. A decoração da suíte era elegante, mas um pouco presunçosa para o seu gosto. Um dos seus primeiros projetos seria a reforma do hotel. Queria dar-lhe um ar mais moderno. Pensava que os donos anteriores não tinham feito nada para o manter atualizado e tinham deixado que murchasse durante muito tempo.

Estava inquieto, não conseguia evitá-lo, e começava a doer-lhe mais a cabeça. Deu voltas pelo salão. Sabia que não conseguiria dormir. Mas também não queria trabalhar. Era a noite anterior à sua maior vitória. Estava prestes a tornar-se oficialmente o novo proprietário do hotel e pensava que devia estar a celebrar. Mas, infelizmente, não tinha ninguém a quem ligar naquela cidade. Não fizera amigos durante os primeiros dezoito anos da sua vida, só inimigos. Recordou que tinha alguém. Foi um pensamento que deslizou na sua mente de maneira surpreendente e muito doce. Ficou quieto.

Lucia.

Tentava não pensar nela porque preferia não recordar o passado. Sentia nostalgia e remorsos ao mesmo tempo. E era algo a que não estava habituado. Nunca se arrependia de nada. Do que menos se arrependia era da noite que passara nos braços dela. Durante umas horas felizes com Lucia Anturri, a filha de um vizinho que ignorara e apreciara em parte iguais, esquecera a dor e o vazio que sempre sentira. Não conseguia esquecer os seus olhos azuis surpreendentes, uns olhos que refletiam o seu coração.

Contudo, depois, saíra da cama dela sem se despedir, aproveitando o facto de ela estar a dormir e voltara à sua vida em Nova Iorque. Não estava disposto a esquecer. Nem sequer por uma noite. Estava cada vez mais inquieto e não podia fazer nada para esquecer a raiva. Começou a desabotoar a camisa. Decidiu que tomaria um duche quente. Às vezes, ajudava com as dores de cabeça.

Estava a tirar a camisa quando entrou no quarto e parou de maneira abrupta. Havia uma garrafa de champanhe ao lado da cama. E não era a única coisa que havia junto da cama. Também havia uma mulher.

 

 

Lucia ficou imóvel ao ver o homem seminu à frente dela e pressionou as toalhas limpas contra o peito. O coração estava acelerado. Era Angelo.

Sempre soubera que o veria outra vez. De vez em quando, fantasiara com essa possibilidade. Mas pensava que tinham sido apenas sonhos românticos e ridículos. Sonhos de adolescente. Mas há muito tempo que não sonhava reencontrar-se com ele e nunca teria imaginado que aconteceria daquela maneira.

Não conseguia acreditar no que estava a acontecer, encontrar-se com ele de maneira tão imprevista…

Ouvira rumores de que voltara à Sicília, mas presumira que eram apenas isso, simples rumores. Nunca poderia imaginar que o veria ali.

Olhou para ele de lado, com o cabelo despenteado e a camisa desabotoada. Tinha a certeza de que não a reconhecera. Porém, ela não conseguira evitar reviver, numa questão de segundos, cada momento daquela noite que tinham passado juntos há já sete anos. Mas sabia que Angelo não sabia quem era. Olhou para ela com os olhos semicerrados. Parecia zangado. Reconheceu aquele olhar. Vira-o com frequência durante a sua infância. Mas, mesmo zangado, continuava a ser muito atraente, o homem mais bonito que vira.

Amara-o muito, embora fosse algo em que preferia não pensar. Tinha a certeza de que Angelo nunca a amara. Passara muito tempo para ainda doer. Mas, ao vê-lo ali, com a camisa entreaberta a revelar o peito musculado, apercebeu-se de que ainda doía. Angelo arqueou uma sobrancelha. Parecia incomodado, como se estivesse à espera de alguma reação por parte dela. Não sabia se queria que se desculpasse ou que saísse dali.

Ela também estava zangada. Teria adorado poder dizer-lhe o que pensava dele depois de se ter ido embora sem se despedir. Contudo, não sentia apenas raiva, também desejo e desespero, esperança e ódio, amor e sentimento de perda.

Em qualquer caso, pensava que o mais sensato que podia fazer era sair daquele quarto antes de ele a reconhecer e terem de se cumprimentar depois de tanto tempo. Parecia-lhe uma situação muito complicada e incómoda para os dois. Tinham sido amigos de infância e ele fora o seu primeiro e único amante, mas sabia que não era importante para ele, nunca fora.

– Lamento – sussurrou ela, enquanto baixava a cabeça para que o cabelo lhe cobrisse a cara. – Estava a preparar o quarto para a noite. Vou-me embora.

Dirigiu-se para a porta sem levantar a cabeça. Odiava que aquele breve encontro tivesse conseguido despertar a dor no seu interior. Era uma dor que tivera durante tanto tempo que quase se tornara insensível a ela. Mas, naquele momento, vendo que Angelo nem sequer a reconhecia, sentiu que ganhava força. Estava prestes a sair quando Angelo agarrou o seu braço.

– Espera – pediu ele.

Ficou imóvel e com o coração a mil por hora. Não conseguia respirar. Angelo soltou o seu braço e foi até à cama.

– Estou a celebrar – indicou.

Mas a voz dele não o refletia. Falava com tanto cinismo como sempre. Não pôde evitar ficar bastante tensa ao ouvi-lo. Estava de costas para ele e sabia que ainda não a reconhecera. Por um lado, era um alívio, mas também não podia evitar sentir-se bastante dececionada.

– Porque não celebras comigo? – continuou Angelo. – Só um copo – esclareceu Angelo, enquanto abria a garrafa de champanhe. – Afinal de contas, não há ninguém com quem possa celebrar.

Lucia virou-se lentamente. Estava rígida e não sabia como agir nem o que dizer. Passara muito tempo para continuar a fingir que era um desconhecido.

Viu que Angelo estava a verter o champanhe em dois copos de cristal. Parecia muito sério. Havia algo na desolação que viu na expressão dele que aumentou a dor tão profunda que sentia no seu interior. Uma dor que tentara ignorar durante muito tempo. Vê-lo assim recordou-lhe quando aparecera à sua porta há sete anos e olhara para ela com tristeza.

– Morreu, Lucia – informara. – E não sinto nada. Sinto-me vazio.

Ao vê-lo assim, não pensara em nada. Limitara-se a dar-lhe a mão e a entrar com ele na casa. Começara algo que mudara a sua vida para sempre. Engoliu em seco e ergueu o queixo para olhar para ele nos olhos. Viu como ficava imóvel, com uma mão estendida para ela, oferecendo-lhe um copo de champanhe borbulhante.

– Está bem, Angelo – acedeu, tentando manter a calma. – Beberei um copo contigo.

 

 

Angelo ficou completamente imóvel, com a mão estendida para ela. Lucia. Não entendia como não a reconhecera, como não soubera de quem se tratava assim que a vira na sua suíte. E, em vez de reagir, não conseguia parar de pensar em como era bonita. Ficou com falta de ar. Mas, então, apercebeu-se do que fazia ali e não pôde evitar sentir uma certa amargura.

– Trabalhas para eles? Para estes descarados?

– Se te referes a ser uma empregada do hotel, a resposta é sim – indicou, orgulhosa.

Fora outra das coisas que esquecera. A voz rouca e baixa. Pensava que não havia uma voz mais sensual do que a de Lucia. E, mesmo assim, podia ser terna e doce. Recordou a conversa que tinham tido naquela noite que tinham partilhado há sete anos, depois do funeral do pai. Lucia, depois de o ouvir confessar que não sentia nada, quisera saber o que Angelo esperara sentir.

– Não sei. Talvez satisfação, felicidade… Alguma coisa. Mas só sinto um vazio no meu interior – explicara.

Lucia não respondera, limitara-se a abraçá-lo.

E ele deixara-se abraçar. Poucos minutos depois, os seus lábios tinham procurado e encontrado os dela. Naquela noite, precisara mais do que nunca da compreensão de Lucia. Algo com que sempre contara. Era por isso que lhe custava entender porque trabalhava para os Corretti, a família que fizera com que a sua infância fosse um verdadeiro inferno. Abanou a cabeça lentamente. A sua enxaqueca aumentou.

– Como podes trabalhar para eles? O que aconteceu à tua promessa, Lucia?

– A minha promessa… – repetiu ela.

– Não te lembras? Prometeste-me que nem sequer lhes dirigirias a palavra…

– A verdade é que não falo com eles, Angelo. Sou apenas mais uma das empregadas que limpa o hotel diariamente. Nem sequer sabem como me chamo.

– E achas que é uma desculpa para…

– Queres mesmo falar de desculpas? – interrompeu-o Lucia.

Angelo sabia que estava a ser ridículo. Afinal de contas, Lucia fizera essas promessas quando era apenas uma criança, não teria mais de onze ou doze anos. Recordava muito bem o momento. Tivera uma discussão quando saíra da escola. Uns rapazes mais velhos tinham-no procurado para lhe bater, mas ele defendera-se como conseguira.

Depois, encontrara Lucia à espera à porta e a observá-lo como sempre, com muito carinho. Tentara consolá-lo, mas ele, ferido no seu orgulho e furioso, tirara-lhe importância.

Lucia insistira e ele deixara que lhe pusesse um saco de gelo no olho e que lhe limpasse o sangue da cara.

Surpreendera-a a observá-lo tão seriamente que, sem pensar duas vezes, lhe segurara as mãos.

– Promete-me, Lucia, que nunca vais falar com eles nem mudar de opinião. Promete-me que nem sequer trabalharás para eles ou…

Lucia observara-o com surpresa, mas dera-lhe a resposta que esperava.

– Prometo-te.

Não, não queria falar de desculpas. Sabia que ele não tinha nenhuma. Tinham passado sete anos desde que se fora embora, deixando-a sozinha na cama, e ainda se sentia culpado. A verdade era que tentara não pensar em Lucia. Poucas horas depois de passar a noite com ela, estava num avião e de regresso a Nova Iorque. Decidira que tinha de a esquecer. Contudo, estava ali e as lembranças apoderaram-se dele, fazendo-o sentir coisas que não desejava sentir. Fechou os olhos.

– Tens uma enxaqueca, não tens? – perguntou ela, em voz baixa.

Angelo abriu os olhos e assentiu. Tivera enxaquecas quando era criança e Lucia costumava dar-lhe uma aspirina e esfregar-lhe as têmporas quando ele deixava.

– Não importa…

– O que não importa? A tua dor de cabeça ou que eu trabalhe para os Corretti?

– Já não trabalhas para eles.

Lucia esbugalhou os olhos durante um segundo. Supôs que entendera mal e pensava que ia despedi-la.

– Sou o novo dono do hotel – esclareceu ele.

– Parabéns! – felicitou, num tom neutro.

Não teria conseguido adivinhar como se sentia. Era muito diferente de como a recordava. Muito mais tranquila e fria. Fora uma pessoa calorosa e generosa, capaz de lhe entregar o seu corpo e talvez até o seu coração numa só noite. Mas algo lhe dizia que o seu coração não tivera nada a ver. Chegara a temer que ela tivesse visto mais num único encontro, talvez porque tinham tido uma amizade que durara muitos anos. Preocupara-o que ela esperasse mais dele, coisas que sabia que não era capaz de dar, que nunca poderia dar a ninguém. Mas, ao ver como olhava para ele, apercebeu-se de que não tivera razões para se preocupar. Não o surpreendia que tivesse deixado aquilo para trás nem que seguisse em frente com a sua vida.

– Tens analgésicos? – perguntou Lucia.

Doía-lhe tanto a cabeça que não hesitou em responder.

– Sim, no meu estojo de higiene pessoal. Está na casa de banho…

Lucia passou junto dele e o seu cheiro envolveu-o. Sentou-se à espera na cama, com o copo de champanhe na mão. Uns minutos mais tarde, regressou e ajoelhou-se ao seu lado. Deu-lhe um copo de água e dois comprimidos e ajudou-o a beber.

Apesar da dor de cabeça intensa, não pôde evitar tremer ao sentir o calor das mãos dela. Recordava muito bem como fora tê-la entre os seus braços. Mal tinham tido de falar, visto que se conheciam muito bem. Mas estava claro que mudara. Não demorou a afastar as mãos.

– Obrigado – agradeceu ele, bruscamente.

Tinham partilhado uma noite desesperada e apaixonada, mas sabia que já não havia nada entre eles. E que nunca poderia haver.

 

 

Lucia continuava à frente de Angelo, vendo como lutava contra ele próprio, como o vira a fazer tantas vezes. Odiava ver-se numa situação de fraqueza.

Ela sempre tentara ajudá-lo, mas era muito difícil sentir que a afastava do seu lado, rejeitando essa ajuda. A história deles sempre fora assim, desde que eram crianças. Mas já estava farta dessa história. Ver Angelo fizera com que voltasse a abrir-se uma ferida profunda e dolorosa dentro dela.

Sabia que tinha de ser mais inteligente do que fora no passado e proteger-se. Apesar de uma parte dela, como sempre, desejar estar com ele.

Partira-lhe o coração e a alma. Não ia permitir que voltasse a fazê-lo, pois demorara anos a recuperar.

– Vais ficar bem?

– Estou bem – afirmou ele, com um gemido.

Sabia porque estava de mau humor. Não era apenas por causa da dor, mas porque não gostava que o vissem vulnerável.

– Muito bem. Então, vou-me embora.

Angelo não respondeu. Dirigiu-se para a porta, mas deteve-se pouco depois. De costas para ele, decidiu que não podia ir-se embora sem dizer algumas coisas. Respirou fundo para tentar esconder a ferida profunda. Não podia dizer nada naquela noite. Talvez nunca lho dissesse. Uma parte dela recordava-lhe que Angelo não precisava de saber e que talvez fosse melhor seguir em frente com a sua vida e fazê-lo acreditar que ela fizera o mesmo.

– Lucia? – murmurou Angelo.

– Vou-me embora – repetiu.

Obrigou-se a abrir a porta e a sair do quarto sem olhar para trás.