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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

 

© 2009 Kate Hewitt. Todos os direitos reservados.

O CONDE FRANCÊS, N.º 1288 - Junho 2012

Título original: Count Toussaint’s Pregnant Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2011

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0323-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversion ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

 

Quando os aplausos cessaram, um silêncio profundo apropriou-se da sala de concertos. Uma expectativa maravilhosa encheu a sala e Abigail Summers experimentou uma emoção quase eléctrica.

Respirou fundo e pôs as mãos sobre o piano de cauda que havia no centro do palco da Salle Pleyel de Paris. Então, fechou os olhos e começou a tocar. A música parecia fluir directamente da sua alma através dos dedos e enchia a sala com as notas misteriosas e atormentadas da Sonata nº 23 de Beethoven. Para Abby, não existiam os espectadores que a ouviam perdidos num silêncio e que tinham dado quase cem euros para a ouvir. Desapareciam à medida que a música se apoderava do seu corpo, mente e alma com uma força apaixonada. Sete anos como profissional e uma vida inteira de aulas tinham-lhe ensinado a concentrar-se apenas na música.

No entanto, a meio da Appassionata, sentira... mais alguma coisa. Apercebera-se de que uma pessoa estava a observá-la. É claro, estavam várias centenas de pessoas a fazê-lo naquele instante, mas ele, porque sabia instintivamente que se tratava de um homem, era diferente. Único. Sentia que estava a observá-la, apesar de não entender como.

Não se atreveu a levantar o olhar nem a perder a concentração embora as suas faces corassem e os pêlos dos braços se arrepiassem, reagindo sensualmente a um tipo de atenção que nunca experimentara antes. Na verdade, nem sequer sabia se fora real.

Começou a desejar que a peça acabasse para poder levantar o olhar e ver quem estava a observá-la. Como podia estar a acontecer-lhe aquilo? Nunca desejara que uma peça acabasse nem experimentara a atenção individual de um espectador durante um concerto.

Quem era ele?

Estaria a imaginá-lo? Poderia ser que apenas estivesse a desejá-lo. Alguém diferente. Alguém que esperara durante toda a sua vida.

Finalmente, as últimas notas da peça ecoaram na sala. Abby levantou o olhar. Viu-o e sentiu-o imediatamente. Apesar da luz potente dos focos do palco e do mar de rostos imprecisos, os seus olhos dirigiram-se imediatamente para os dele como se se vissem atraídos por um íman. Sentiu-se também como se o seu corpo se inclinasse irresistivelmente para o dele, apesar de permanecer sentada no banco do piano. Nos poucos segundos que teve para olhar, verificou que o desconhecido tinha o cabelo escuro, o rosto anguloso e, sobretudo, uns olhos azuis brilhantes, intensos. Ardentes.

Reparou que os espectadores começavam a folhear os programas do concerto e se remexiam nos seus lugares. Ela devia ter começado a sua peça seguinte, uma fuga de Bach, mas, em vez de o fazer, estava ali sentada, completamente imóvel.

Não tinha o luxo de fazer perguntas nem de procurar respostas. Respirou fundo e obrigou-se a concentrar-se novamente na música. Quando começou a tocar, os presentes recostaram-se novamente nas cadeiras com um suspiro colectivo de alívio. No entanto, Abby continuava a pensar nele e perguntou-se se voltaria a vê-lo.

 

 

Jean-Luc Toussaint estava sentado na sua cadeira, com cada músculo do seu corpo tenso devido à antecipação, à ansiedade, à esperança. Eram sensações que não experimentava há muito tempo. Meses, mais provavelmente anos. No entanto, quando Abigail Summers, a pianista de fama mundial, subiu ao palco, sentiu que a esperança se apoderava dele, como se as cinzas do seu antigo ser ganhassem vida de um modo que nunca teria acreditado que voltaria a sentir.

É claro, vira as suas fotografias, mas nada o preparara para a imagem que observara quando ela subira ao palco: a cabeça erguida, o cabelo brilhante e escuro penteado de forma elegante, o leve vestido preto a acariciar-lhe suavemente os tornozelos ao andar. Nada o preparara para a resposta que aquela imagem provocara na sua própria alma, para os sentimentos de esperança e de júbilo que o assaltaram.

Tentou livrar-se daqueles sentimentos. Tinham passado seis meses desde a morte de Suzanne e pouco mais de seis horas desde que descobrira as cartas da sua esposa e se apercebera da verdade sobre a sua morte. Fora-se embora do seu castelo e dirigira-se para Paris, evitando o seu apartamento e todas as lembranças da sua vida anterior. Decidira ir àquele concerto impulsivamente, quando vira um anúncio e quisera perder-se em algo diferente para não ter de pensar e sentir.

Não conseguia sentir nada. Sentia-se vazio, sem sentimentos... Até Abigail Summers atravessar o palco. E quando começou a tocar... Tinha de admitir que a Appassionata era uma das suas sonatas favoritas. Compreendia perfeitamente a frustração de Beethoven, a inevitabilidade da incapacidade do compositor e a sua própria incapacidade para parar o seu desenvolvimento imparável. Sentia-se assim com a sua própria vida, com o modo como as coisas tinham começado a cair a pique, fora do seu controlo e sem que ele percebesse até ser demasiado tarde.

Abigail Summers proporcionava uma energia e uma emoção renovadas à peça, tanto que Luc cerrou com força os punhos e sentiu que os seus olhos ardiam ao olhar para ela, como se quisesse obrigá-la a levantar a cabeça para olhar para ele.

Quando finalmente o fez, Luc sentiu uma estranha sensação, como se já a conhecesse, o que era impossível, dado que nunca a vira antes. No entanto, quando os seus olhares se encontraram, sentiu-se como se alguma coisa perdida há já muito tempo encontrasse finalmente o seu lugar, como se o mundo se endireitasse um pouco mais, como se ele próprio se tivesse endireitado e fosse finalmente um homem completo.

Sentiu esperança.

Era uma sensação maravilhosa, mas também aterradora. Sentia demasiado, mas ansiava sentir mais. Queria esquecer tudo o que acontecera na sua vida, os erros que cometera nos últimos seis anos. Queria o esquecimento, poder perder-se naquela mulher, mesmo que fosse apenas uma vez. Mesmo que não pudesse durar.

Os seus olhares encontraram-se e o momento foi mágico. Então, quando a impaciência se apoderou dos espectadores, ela baixou o olhar e, um instante depois, começou a tocar.

Luc encostou-se no seu lugar e deixou que a música se apoderasse dele. Aquele único olhar provocara um apetite profundo nele, um desejo incansável de se unir a outra pessoa, a ela, como nunca experimentara com ninguém. No entanto, juntamente com esse desejo imparável, experimentou o familiar desespero. Como podia amar alguém, desejar alguém, quando não lhe restava nada, absolutamente nada, para dar?

 

 

Abby sentou-se sobre o banco que tinha à frente do espelho do seu camarim. Suspirou e fechou os olhos. O concerto fora interminável. Durante o intervalo, passeara de um lado para o outro sem descanso, o que não beneficiara em nada a sua interpretação na segunda parte. Se o seu pai e representante estivesse presente, tê-la-ia obrigado a beber um pouco de água, a relaxar e a concentrar-se. «Pensa na música, Abby». Sempre a música. Nunca deixara que pensasse noutra coisa e, antes daquela noite, nunca soubera que queria fazê-lo.

Ao ver aquele homem, cuja identidade desconhecia, alguma coisa despertara dentro dela e experimentara uma necessidade desconhecida para ela até então. A necessidade de o ver, de falar com ele e até mesmo de tocar nele.

Começou a tremer de desejo e também de medo. O seu pai não estava lá. Estava no hotel com uma forte constipação e, por uma vez, Abby não queria pensar na música. Queria pensar naquele homem. Iria vê-la? Tentaria aproximar-se do seu camarim? Havia sempre uma dúzia de admiradores que tentavam conhecê-la. Alguns enviavam flores e até mesmo convites. Abby aceitava sempre os presentes e recusava os convites. Aquele era o comportamento rígido que o seu pai sempre ditara. Insistia que parte da beleza de Abby residia no facto de ser inalcançável ao público. Abigail Summers, um prodígio do piano.

Abby fez um ar de desagrado à frente do espelho. Sempre odiara essa alcunha, o nome que a imprensa lhe dera fazia-a sentir-se como se fosse um caniche treinado ou talvez alguma coisa mais exótica, alguma coisa mais distante, tal como o seu pai queria sempre.

Naquele momento, não sentia desejo algum de ser distante. Queria ser encontrada. Conhecida. Por ele.

«Ridículo», pensou. Só fora um instante. Um único olhar. Não se atrevera a voltar a olhar para ele. No entanto, nunca se sentira assim antes. Nunca se sentira tão... Viva. Queria voltar a senti-lo. Queria voltar a vê-lo.

Iria ao camarim?

Alguém bateu ligeiramente à porta e uma das empregadas da sala espreitou.

– Mademoiselle Summers, récevez-vous des visiteurs?

– Eu...

Abby não soube o que responder. Sentia-se um pouco enjoada. Recebia visitas? A resposta, é claro, era que não. Sempre não.

– Há muitas? – perguntou-lhe ela, finalmente, num francês impecável.

A mulher encolheu os ombros.

– Algumas. Aproximadamente uma dúzia. Querem o seu autógrafo.

Abby sentiu uma ligeira desilusão. Intuía que aquele homem não quereria o seu autógrafo. Não era um admirador. Era... O que era? «Nada», insistiu ela.

– Entendo – disse. Engoliu em seco. – Está bem. Pode fazê-los entrar.

O senhor Duprès, o director da sala, apareceu na entrada com um ar de desaprovação no rosto.

– Pensava que mademoiselle Summers não aceitava visitas.

– Penso que sei perfeitamente se devo aceitar visitas ou não – replicou ela, friamente. No entanto, tinha as palmas das mãos húmidas e o coração muito acelerado. Normalmente, não questionava os empregados nem tinha de falar com ninguém. O seu pai ocupava-se disso. Ela simplesmente tocava, o que lhe bastara até àquele momento.

– Faça-os entrar – acrescentou, olhando para o homem nos olhos.

– Não penso que...

– Disse para os mandar entrar.

– Muito bem – disse o homem, antes de se ir embora.

Abby arranjou o cabelo com as mãos e olhou para o vestido. No espelho, o vestido de seda preta fazia-a parecer muito pálida, quase como um fantasma de olhos cinzentos enormes e luminosos.

Quando alguém bateu à porta, virou-se e sorriu, embora ficasse atónita. Não era ele. Não era nenhuma das pessoas que queria o seu autógrafo. Era apenas um punhado de mulheres de meia-idade acompanhadas pelos seus maridos que não deixava de sorrir nem de conversar enquanto lhe entregava os programas para que os assinasse.

O que esperara? Que ele fosse procurá-la ao seu camarim com um sapato de vidro na mão? Pensaria que estava a viver um conto de fadas?

De repente, tudo lhe pareceu ridículo. Provavelmente, imaginara tudo o que se passara. As luzes do palco eram habitualmente tão brilhantes que não teria conseguido distinguir nenhum dos rostos dos espectadores.

Sentiu-se envergonhada e humilhada. Quando os seus admiradores se foram embora finalmente, acompanhados por um zangado monsieur Duprès, Abby ficou sozinha. Verdadeiramente sozinha.

Afastou aquele pensamento. Não estava sozinha. Tinha uma vida plena e muito ocupada como uma das pianistas de concerto mais requeridas de todo o mundo. Falava perfeitamente três línguas, tinha visitado praticamente todas as cidades importantes do mundo e tinha imensos admiradores que a adoravam. Como podia estar sozinha?

– E, no entanto, estou – disse, em voz alta.

Contrariada, vestiu o casaco. O que ia fazer? Apanhar um táxi para regressar ao hotel e beber um copo de leite enquanto revia os acontecimentos da noite com o seu pai e depois ir para cama como a boa rapariga que era?

Não queria continuar a rotina que marcava a sua vida há muitos anos. Ver aquele homem, fosse quem fosse, despertara nela a necessidade de experimentar, de ser e de saber mais. De viver a vida.

Mesmo que fosse apenas por uma noite.

Suspirou e tentou desfazer-se dos seus sentimentos. O que podia fazer? Tinha vinte e quatro anos, estava sozinha em Paris e tinha toda a noite à frente dela, mas não sabia o que fazer nem como apagar a sua sede de experiências, de conhecimentos.

Monsieur Duprès voltou a bater à porta do camarim.

– Quer que o porteiro lhe chame um táxi?

Abby estava prestes a aceitar quando, sem saber porquê, abanou a cabeça.

– Não, obrigada, monsieur Duprès. Está uma noite linda. Irei a pé.

– Mademoiselle, está a chover – replicou o gerente, franzindo o sobrolho.

– Não importa – insistiu ela. – Irei a pé.

O senhor Duprès encolheu os ombros e foi-se embora. Abby agarrou na mala e saiu do camarim para se dirigir para a noite fria e húmida.

Estava completamente sozinha na deserta rue du Faubourg Saint-Honoré. A calçada estava completamente húmida pela chuva. Olhou à sua volta e perguntou-se o que fazer. O seu hotel era a uma curta distância dali. Supunha que podia ir a pé, mas ansiava experimentar a vida. Começou a andar, sentindo-se mais sozinha do que nunca. Uma mulher elegantemente vestida saiu do hall luminoso de um hotel elegante. Abby parou para olhar para o interior e viu um hall enorme de mármore e um lustre imponente de vidro no tecto. Então, sem pensar no que estava a fazer, dirigiu-se para a porta e entrou. Apesar de ter estado em hotéis como aquele muitas vezes, não soube o que fazer. Era diferente porque, naquele momento, estava sozinha. Ninguém sabia quem era e podia fazer o que quisesse. A questão era o que queria fazer.

– Mademoiselle... – disse-lhe um porteiro.

– Estou à procura do bar.

O homem assentiu e indicou-lhe uma sala que havia à direita. Abby agradeceu-lhe e dirigiu-se para lá. Sentou-se num banco e esperou que o empregado, que estava elegantemente vestido de smoking, lhe perguntasse o que queria beber.

Noutras vezes, pedira um vinho branco ou champanhe. Algumas vezes, provara um coquetel cujo nome não recordava, mas daquela vez queria alguma coisa diferente.

– Beberei... beberei um martini – disse.

– Simples ou com gelo?

– Simples – respondeu sem saber porquê, dado que tinha a sensação de que nem sequer gostaria daquela bebida. – Com uma azeitona.

Parecia-lhe que aquela bebida vinha com uma azeitona. Pelo menos, se não gostasse, teria alguma coisa para comer.

O empregado afastou-se. Abby examinou o bar. Só havia outra pessoa sentada lá. Estava do outro lado do balcão. Antes de o desconhecido levantar a cabeça ou de se aperceber da sua presença, Abby soube.

Era ele.

Capítulo 2

 

 

Sentiu que era ele com um calafrio eléctrico que lhe percorreu todo o corpo. Todos os seus nervos e músculos ficaram em estado de alerta e o seu coração começou a acelerar com força. Ele estava sentado no último banco, com um copo de uísque à frente dele e a cabeça inclinada para o balcão.

De repente, endireitou-se e Abby sentiu um nó na garganta quando o desconhecido olhou para ela. Durante um longo instante, nenhum dos dois pronunciou palavra alguma. Simplesmente, entreolharam-se. O olhar foi muito mais comprido do que devia para dois desconhecidos num bar. Apesar de tudo, Abby não desviou o olhar. Sentiu-se como se o tempo tivesse parado.

– É ainda mais encantadora pessoalmente – disse ele finalmente, com um ligeiro sotaque francês.

Abby experimentou uma sensação deliciosa ao perceber que, para além de a reconhecer, estava a elogiá-la como mulher em vez de como pianista.

– Vejo que se lembra de mim – sussurrou, num tom trémulo. Sem conseguir evitá-lo, corou.

– É claro que me lembro de si – replicou ele, com um sorriso suave nos lábios. Pelo contrário, os seus olhos azuis revelavam uma intensidade profunda, a mesma que ela vira na sala de concertos. – E agora sei que também se lembra de mim.

Abby corou ainda mais e desviou o olhar. O empregado já lhe servira o seu martini, por isso usou a bebida como distracção e deu um gole demasiado grande. Engasgou-se e susteve a respiração ao sentir como o álcool lhe descia até ao estômago. Então, pousou o copo sobre o balcão.

O desconhecido aproximou-se dela e sentou-se no banco que estava junto do dela. Abby sentiu o calor que emanava do seu corpo esbelto e inalou o cheiro masculino e sensual do seu perfume. Então, engasgou-se um pouco mais.

– Sente-se bem? – murmurou muito solícito.

– Sim... engasguei-me com a bebida.

– Costuma acontecer – murmurou ele, embora Abby soubesse que não o enganara.

Decidiu justificar-se com ele.

– Na verdade, nunca antes tinha provado um martini – disse, virando-se para olhar para ele. – Não sabia que era tão... forte.

Como o tinha tão perto, aproveitou a oportunidade para olhar para ele. Media quase um metro e noventa, o que fazia com que Abby fosse pequena apesar do seu metro e setenta. Tinha o cabelo escuro, embora as têmporas tivessem começado a ficar grisalhas, e não demasiado curto. O seu rosto era de uma beleza austera, com maçãs do rosto angulosas, olhos azuis ferozes e um queixo forte. Tinha uma expressão de força, mas também de sofrimento. Parecia um homem marcado pelas experiências da vida. Talvez até mesmo pela tragédia.

– Porque pediu um martini?

– Queria pedir o que eu considerava que era uma bebida sofisticada – admitiu ela. – Não lhe parece ridículo?

Ele inclinou a cabeça e sorriu novamente, revelando uma covinha numa face. Então, olhou para ela da cabeça aos pés.

– É claro que sim, considerando que já é sofisticada.

– Vejo que gosta de elogiar uma mulher, monsieur...

– Luc.

– Monsieur Luc?

– Só Luc. E sei quem tu és. Abigail.

– Abby.

Luc sorriu novamente. Abby experimentou um calor que nunca sentira antes e que a fazia sentir-se relaxada, embargada por uma languidez sonolenta, apesar de ter o coração acelerado. De repente, sentiu que acreditava nos contos de fadas. Aquilo estava a acontecer realmente. Era real. Tinha-o encontrado, ali, naquele bar, e ele encontrara-a a ela.

– Abby... É claro. Bom – disse, apontando ligeiramente para o copo de martini, – o que achaste?

– Penso que prefiro o champanhe.

– Nesse caso, será champanhe – afirmou. Então, com um ligeiro gesto, fez com que o empregado se aproximasse a correr. Disse-lhe alguma coisa rapidamente em francês e o empregado não demorou a tirar uma garrafa poeirenta do que, certamente, era um champanhe muito caro e dois copos delicados. – Queres partilhar uma bebida comigo?

Abby nunca tivera um encontro assim. Só desfrutara de conversas cuidadosamente orquestradas e sessões de autógrafos organizadas pelo seu pai. Isso sempre fizera com que Abby se sentisse como uma criatura exótica que só podia observar-se, admirar-se e ver à distância. «Senti-me enjaulada toda a minha via. Até agora.» Finalmente, sentia-se livre.

– Sim – disse.

Luc levou-a para uma mesa. Abby sentou-se numa cadeira confortável e observou como o empregado abria a garrafa e servia dois copos de champanhe borbulhante.

– Às surpresas inesperadas – disse Luc, levantando o copo.

– Não são todas?

– É verdade – afirmou ele. Então, bebeu um gole do seu copo.