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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Michelle Celmer. Todos os direitos reservados.

FAÍSCAS DE PAIXÃO, N.º 1100 - Dezembro 2012

Título original: The Nanny Bombshell

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-1321-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Aquilo não corria bem.

Por ter sido defesa central e capitão da equipa dos Scorpions de Nova Iorque, Cooper Landon era um dos heróis desportivos mais queridos da cidade. A sua carreira como jogador de hóquei fora sempre o seu grande trunfo.

Até àquele dia.

Olhou pela janela da sala de reuniões do escritório do seu advogado, em Manhattan, e contemplou o trânsito a deslizar lentamente por Park Avenue. A rua estava apinhada de gente em atividades quotidianas: homens de negócios que chamavam um táxi, mães que empurravam um carrinho... Três semanas antes ele era como eles e vivia sem se aperceber de que o seu mundo poderia subitamente desmoronar-se.

Um acidente estúpido roubara-lhe a única família que tinha: o irmão Ash e a cunhada Susan tinham morrido e as suas pequenas sobrinhas ficaram órfãs.

Apertou os punhos e tentou reprimir a ira que sentia perante tamanha injustiça.

Restavam-lhe as sobrinhas. Apesar de terem sido adotadas, Ash e Susan amavam-nas como se fossem deles. Naquele momento ele era responsável por elas e estava decidido a dar-lhes a vida que o irmão teria desejado. Devia-o a Ash.

– Então, que achaste da última? – perguntou-lhe Ben Hearst, o advogado, enquanto tomava notas sobre as candidatas a ama que tinham recebido naquela tarde.

Coop voltou-se para ele, incapaz de esconder a frustração.

– Não lhe confiaria nem o meu hamster.

Tal como as outras três mulheres que tinham entrevistado, a última candidata estava mais interessada em falar da carreira dele como jogador de hóquei do que nas gémeas. Conhecera muitas como ela, mulheres que tentavam conseguir um marido famoso. Embora noutros tempos ele gostasse de ser o centro das atenções e, provavelmente, até de aproveitar-se disso, naquele momento isso incomodava-o. Não o viam como o tutor de duas meninas maravilhosas, mas como um objeto. Acabava de perder o irmão e nenhuma das candidatas a ama lhe dera os pêsames.

Passara dois dias em entrevistas inúteis e começava a achar que não encontraria a ama adequada.

A sua governanta, que o estivera a ajudar de má vontade com as gémeas, ameaçara despedir-se se não encontrasse alguém que cuidasse delas.

– Lamento – disse Ben. – Imagino que deveríamos ter previsto que isto iria acontecer, mas acho que vais gostar da próxima.

– Está qualificada para o trabalho?

– Mais do que qualificada – entregou o currículo a Coop. – Deixei-a para o final.

Sierra Evans, de vinte e seis anos. Estudou enfermagem e trabalhava como enfermeira pediátrica.

– A sério? – perguntou Coop ao advogado.

Este sorriu e assentiu.

– Eu também fiquei surpreendido.

A mulher era solteira, não tinha antecedentes criminais, nem sequer uma multa de estacionamento. Parecia perfeita.

– Qual é o senão?

Ben encolheu os ombros.

– Talvez não haja. Estás pronto para conhecê-la?

– Vamos a isso – respondeu Coop enquanto sentia a esperança renascer.

Ben pediu à rececionista, através do intercomunicador, que deixasse entrar a senhora Evans.

A porta abriu-se e a mulher entrou. Coop apercebeu-se imediatamente de que era diferente das outras. Vestia um uniforme de trabalho e sapatos confortáveis. Tinha uma altura e um aspeto normais, e não tinha nada que a fizesse sobressair, exceto o rosto.

Os olhos castanhos eram tão escuros que pareciam negros e tinham um aspeto asiático. Tinha uma boca grande de lábios carnudos e sensuais e, apesar de não estar maquilhada, não precisava. Tinha o cabelo negro, longo e brilhante, apanhado com um rabo-de-cavalo.

– Desculpem a farda, mas venho diretamente do trabalho – disse ela com uma voz rouca.

– Não há problema – assegurou-lhe Ben. – Sente-se, por favor.

Ela assim fez e pousou a mala. Coop observou-a em silêncio enquanto Ben lhe fazia as perguntas habituais, às quais ela respondeu olhando para Coop de vez em quando, mas com a atenção centrada em Ben. As outras candidatas tinham feito perguntas a Coop tentando que ele interviesse na conversa. Mas a senhora Evans não tentou namoriscar com ele nem insinuar-se-lhe. Também não sorriu de forma deslumbrante nem disse que estava disposta a fazer qualquer coisa para conseguir o emprego. Na verdade, evitou olhá-lo nos olhos, como se a presença dele a deixasse nervosa.

– Compreende que este posto implica viver na casa. Será responsável pelas gémeas vinte e quatro horas por dia e terá folga das onze da manhã às quatro da tarde aos domingos, e um fim de semana por mês das oito da manhã de sábado às oito da tarde de domingo – disse Ben.

– Compreendo.

Ben voltou-se para Coop.

– Queres acrescentar alguma coisa?

– Sim – dirigiu-se diretamente à senhora Evans. – Porque é que quer deixar o seu trabalho de enfermeira para ser ama?

– Adoro trabalhar com crianças, como é evidente – afirmou ela com um sorriso tímido e bonito. – Mas trabalhar na unidade pediátrica de cuidados intensivos é muito stressante e emocionalmente desgastante. Preciso de uma mudança de ritmo e também tenho que reconhecer que me atrai a ideia de viver no local de trabalho.

– Porquê?

– O meu pai está doente e dependente dos outros, o salário que vocês me oferecem, e o facto de não ter que pagar renda, permitir-me-ia interná-lo numa residência de luxo.

Ele ficou sem fala durante alguns segundos porque era a última coisa que esperava ouvir. Não conhecia ninguém disposto a sacrificar uma parte tão grande do salário para cuidar de um progenitor. Até Ben parecia surpreendido.

Coop não encontrava motivo algum para não a contratar imediatamente, mas não queria precipitar-se. Tratava-se das meninas, não da sua própria conveniência.

– Quero que passe por minha casa amanhã e conheça as minhas sobrinhas.

Ela olhou para ele, esperançada.

– Isso significa que fiquei com o emprego?

– Gostaria de ver como é que se relaciona com as meninas antes de tomar uma decisão. Mas, para lhe ser sincero, você é a candidata mais qualificada de todas as que vimos até agora.

– Amanhã é o meu dia de folga, por isso posso ir a sua casa quando quiser.

– Que tal à uma, depois de as meninas terem comido? Sou novato nisto de cuidar delas, pelo que demoro bastante a dar-lhes banho, vesti-las e dar-lhes de comer.

Ela sorriu.

– Parece-me bem.

– O Ben dar-lhe-á a morada.

Este levantou-se e a senhora Evans fez o mesmo, pegando na mala e pendurando-a ao ombro.

– Outra coisa, senhora Evans – disse Coop. – Gosta de hóquei?

Ela hesitou.

– É um requisito necessário para o trabalho?

– Claro que não – respondeu ele tentando não sorrir.

– Então, não. Não gosto muito de desporto. Apesar de até há pouco tempo o meu pai ser um grande adepto de hóquei.

– Então, sabe quem eu sou?

– Há alguém em Nova Iorque que não saiba?

– E isso pode ser um problema?

– Não entendo o que quer dizer.

A confusão dela fez com que Coop se sentisse idiota por ter perguntado. Estava tão habituado a que as mulheres o adorassem que já o esperava? Talvez ele não fizesse o género dela, ou ela tivesse namorado.

– Não importa.

– Queria dizer-lhe que lamento muito o que aconteceu ao seu irmão e esposa. Sei como é difícil perder um ente querido.

Coop sentiu um nó na garganta. Ficara aborrecido por as outras não lho terem dito, mas o facto de ela o fazer incomodou-o, talvez porque parecia estar a ser sincera.

– Obrigado – sofrera já demasiadas perdas. Primeiro, os pais quando tinha doze anos e depois, Ash e Susan. Talvez fosse o preço a pagar pela fama e sucesso.

Depois dela sair, Ben perguntou-lhe:

– Achas que esta servirá?

– Tem habilitações e parece que precisa do emprego. Se as gémeas gostarem dela, assunto resolvido.

– Também é agradável à vista.

– Achas que, se encontrar uma ama que valha a pena, vou arriscar estragar tudo tendo uma relação com ela?

Bom, talvez um mês antes o tivesse feito. Mas tudo mudara.

– Prefiro as loiras – continuou.

Alem do mais, para ele, a prioridade era cuidar das meninas e educá-las como os pais teriam querido. Devia-o ao irmão já que, quando os pais deles morreram, Ash tinha apenas dezoito anos, mas deixou a sua própria vida em suspenso para cuidar de Coop, que, no início, não lhe facilitara a vida. Sentia-se confuso e magoado, perdeu o controlo e quase se transformou num delinquente juvenil. O psicólogo da escola disse a Ash que o irmão precisava exteriorizar a ira de forma construtiva e sugeriu-lhe que fizesse desporto, pelo que Ash lhe indicou o hóquei.

Coop não se interessava por desporto, mas adaptou-se ao jogo imediatamente e cedo superou os colegas de equipa, que jogavam desde muito mais novos. Aos dezanove anos, os Scorpions de Nova Iorque selecionaram-no.

Mas uma lesão no joelho, dois anos antes, acabara com a sua carreira desportiva. No entanto, graças ao conselho do irmão, investira de forma inteligente, pelo que tinha uma fortuna que nunca pensara vir a possuir. Sem Ash, e o que sacrificara por ele, não teria sido possível. Por isso tinha que saldar a sua dívida para com ele, ainda que não o conseguisse fazer apenas por falta de preparação. Não sabia cuidar de crianças. Se até duas semanas antes não tinha mudado uma fralda em toda a vida! Sem a ajuda da governanta, estaria perdido. Se a senhora Evans era adequada para o trabalho, não arriscaria estragar tudo para dormir com ela.

Era terreno proibido.

 

 

Descendo no elevador, Sierra Evans suspirou aliviada. As coisas tinham corrido muito bem e estava segura de que o trabalho seria tão bom como o que tinha.

Era evidente que Cooper Landon tinha coisas melhores para fazer do que cuidar das sobrinhas. Apesar de ela não gostar de mexericos, o seu comportamento e reputação de mulherengo eram inquietantes. Não era o ambiente ideal que ela desejaria para criar as filhas dela.

As filhas dela... Ultimamente tinha voltado a considerá-las suas.

Já que Ash e Susan não podiam, ela salvá-las-ia, cuidaria delas e amá-las-ia. Nada mais importava naquele momento.

Saiu para a rua e dirigiu-se para o metro.

Dar as gémeas para adoção tinha sido a decisão mais difícil da vida dela, mas sabia que fora pelo melhor, já que não tinha recursos económicos, além de ter o pai doente, para cuidar delas. Sabia que Ash e Susan lhes dariam tudo o que ela não teria podido.

Um dia, ao ver a notícia de um acidente aéreo, apercebeu-se de que falavam deles. Em pânico, foi mudando de canal em busca de mais informação, aterrorizada com a hipótese de as crianças estarem no avião.

Às sete horas da manhã seguinte, confirmou-se que as crianças tinham ficado com a família de Susan. Sierra começou a chorar de alegria, mas cedo se deu conta da situação. Quem iria cuidar delas? Ficariam com a família de Susan ou viveriam num orfanato?

Contactou o advogado imediatamente e, ao fim de vários telefonemas, descobriu que Cooper seria o tutor delas. Como era possível que Ash o tivesse escolhido? Que interesse podiam ter dois bebés para um ex-jogador de hóquei, mulherengo e libertino?

Pediu ao advogado que falasse com ele de parte dela, sem mencionar o seu nome, porque imaginava que estaria mais do que disposto a devolvê-las à mãe biológica. No entanto, Cooper recusara-se.

Lutar pela custódia seria uma batalha legal longa e cara. Mas como sabia que Cooper forçosamente precisaria de ajuda e ficaria encantado com alguém com a experiência dela, conseguiu uma entrevista para o cargo de ama.

Sierra foi para Queens de metro. Normalmente, ia ver o pai às quartas-feiras, mas no dia seguinte tinha que se encontrar com Cooper.

Na estação apanhou um táxi para a residência de terceira categoria onde o pai vivia há catorze meses. Cumprimentou a enfermeira da receção, que lhe respondeu com um rosnado.

Detestava que o pai tivesse que estar naquele lugar horrível, cujos empregados eram apáticos e davam um tratamento quase criminoso aos idosos, mas era o único que o seguro cobria. O pai dela perdera todas as capacidades, exceto as funções corporais mais básicas. Não falava, mal reagia aos estímulos e era alimentado por sonda. Ainda que o coração continuasse a bater, era uma questão de tempo até deixar de o fazer. Podia ser uma questão de semanas ou de meses, não havia forma de o saber. Numa boa residência, seria bem cuidado.

– Olá, Lenny – Sierra cumprimentou o colega de quarto do pai, um veterano de guerra de noventa e um anos que perdera o pé direito e o braço esquerdo na batalha da Normandia.

– Olá, Sierra – respondeu ele alegremente, sentado numa cadeira de rodas.

– Como é que está o meu pai hoje? – partia-se-lhe o coração ao vê-lo naquele estado, uma sombra do que fora, do pai carinhoso que a criara a ela e à irmã Joy sem ajuda de ninguém.

– Hoje teve um dia bom – disse Lenny.

– Olá, papá – beijou-o no rosto e, apesar de estar acordado, não a reconheceu. Nos dias bons, estava tranquilo e dormia ou olhava para o sol que entrava pelas fendas da persiana. Nos dias maus queixava-se, não se sabia se de dor. Mas nesses dias sedavam-no.

– Como é que está o teu filho? Já deve ter idade para ir à escola.

Sierra suspirou. Lenny tinha falhas de memória. Recordava que ela estivera grávida, mas esquecera que tinha dado as gémeas para adoção, além de a confundir com outra pessoa que tinha um rapaz. E em vez de voltar a explicar-lhe uma e outra vez, fazia-lhe a vontade.

– Cresce demasiado depressa.

E antes que Lenny pudesse perguntar-lhe mais alguma coisa, anunciaram pelo intercomunicador que estava na hora do bingo.

– Tenho que ir – disse Lenny. – Queres que te traga uma bolacha?

– Não, obrigada.

Quando ele saiu, Sierra sentou-se à beira da cama do pai e pegou-lhe na mão.

– Hoje fui à entrevista – disse-lhe, apesar de achar que ele não a entendia. – Correu muito bem e vou ver as meninas amanhã. Sei que pensas que não deveria meter-me nisto e confiar no juízo do Ash e da Susan, mas não consigo. Tenho que me assegurar de que as meninas estão bem e, como não o posso fazer como mãe, fá-lo-ei como ama delas.

E se isso implicava sacrificar a sua liberdade e trabalhar para Cooper Landon até que as crianças deixassem de precisar dela, estava disposta a fazê-lo.