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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Kathleen Beaver. Todos os direitos reservados.

INOCENTE NO PARAÍSO, N.º 1126 - Abril 2013

Título original: An Innocent in Paradise

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2934-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Logan Sutherland estava a dirigir-se ao vestíbulo do exclusivo resort Alleria quando ouviu um estrondo de vidros partidos, vindo do bar.

– É o preço a pagar nos negócios – murmurou, irónico.

Mas deteve-se um momento e aguçou o ouvido.

E não ouviu mais nada. Nem o menor barulho.

– Estranho – murmurou, olhando para o relógio.

Tinha que atender um telefonema importante daí a quinze minutos, e não tinha tempo, mas aquele silêncio sinistro fê-lo mudar de direção e dirigir-se ao bar.

Logan e o seu irmão gémeo, Aidan, tinham enriquecido a desenhar e a gerir hotéis exóticos, de cinco estrelas, por todo o mundo, de modo que uns quantos copos partidos não eram motivo para grande alarme.

Mas um estrondo daqueles era, invariavelmente, seguido de risos, barulho e, às vezes, de uma briga.

Nunca de silêncio.

Logan Sutherland não era do tipo de pessoa que permitisse cenas no seu resort sem intervir, de modo que entrou no elegante bar... no elegante e silencioso bar. Embora estivesse cheio de clientes e os empregados se movimentassem de mesa em mesa, a servir bebidas e aperitivos, o silêncio era desconcertante.

Um grupo de pessoas estava reunido do outro lado do bar, todas elas inclinadas sobre o chão.

Logan aproximou-se do chefe de sala.

– O que se passa, Sam?

O homem apontou para o grupo, deixando escapar um suspiro.

– A nova empregada de mesa deixou cair um tabuleiro.

– E por que é que ficaram todos em silêncio?

Sam demorou uns segundos a responder:

– Estamos um bocado preocupados com ela, senhor Sutherland. Ninguém quer que fique mal vista.

– Porquê, cortou-se com os vidros?

– Não, felizmente não. É uma boa rapariga, senhor Sutherland.

Logan franziu o sobrolho enquanto se virava para o grupo de empregados que estava a apanhar os cacos.

– Obrigada, a sério – disse uma jovem que nunca tinha visto, antes de se dirigir ao balcão.

E foi nesse momento que Logan conseguiu ter uma boa perspetiva da rapariga... e sentiu como se, de repente, estivesse a sufocar.

De certeza que tinha de aplicar protetor solar porque a sua pele era branca como a porcelana.

Era uma ruiva de compleição pálida e sardas no nariz, com uma longa cabeleira que lhe caía pelas costas em lustrosas ondas. Envergava a farda oficial do resort, biquíni e pareo a fazer de saia, e Logan não pôde não reparar que tinha um traseiro escandaloso e um peito perfeito.

Era alta, tal como ele gostava... embora isso não fosse importante já que não tinha tempo para relacionamentos. Mas também, quem estava a falar de uma relação? Podia sempre arranjar tempo para uma aventura, já que, durante aquela breve observação, aproveitara para calcular quanto tempo demoraria a levá-la para a sua cama.

Caminhava com a graça que algumas mulheres altas possuíam naturalmente. E, por isso, ter deixado cair o tabuleiro surpreendia-o, pois não parecia absolutamente nada desastrada. Antes pelo contrário, parecia segura de si mesma, inteligente, serena. Dava a impressão de nunca ter partido um prato em toda a sua vida.

Estava a fazer o quê?

Logan lembrou-se do seu chefe de sala, Sam, para quem a nova empregada de mesa era «uma boa rapariga». Enfim, Sam não seria o primeiro homem a deixar-se enganar por uma rapariga bonita.

A rapariga em questão finalmente reparou nele e os seus olhos iluminaram-se. Era uma mulher vistosa, isso era óbvio. E Logan compreendia bem que o seu duro chefe de sala se transformasse num gatinho na presença da ruiva.

Tinha uns lábios carnudos e uns olhos enormes e verdes que brilhavam com uma simpatia que parecia genuína. Certamente, passava os dias a ensaiar aquela expressão. Mesmo que fosse apenas para conseguir umas boas gorjetas.

Claro que não ia conseguir muitas gorjetas se atirasse com os copos dos clientes ao chão. Por causa disso estava ele ali agora.

Um dos empregados de mesa tinha voltado a colocar as bebidas no seu tabuleiro e chamou-a do balcão.

– Ah, obrigada – disse a ruiva. – És muito amável.

Logan viu que o homem corava com o elogio enquanto ela retirava um caderninho da cintura para o estudar por um momento, antes de ajeitar os copos em círculo. Quando acabou, pegou no tabuleiro com as duas mãos e tentou levantá-lo.

Todo o bar ficou em silêncio quando o tabuleiro se inclinou para um lado...

Sem pensar, Logan correu para lho tirar das mãos.

– Onde vai com isto?

– Para aquela mesa ali – respondeu ela, apontando para uma mesa com a cabeça. – É para os senhores McKee e amigos.

– Já te disse que posso ajudar, se quiseres – ofereceu-se um dos homens. – Mas, parece que já encontraste ajuda.

Um cliente do resort Alleria estava disposto a ajudar uma empregada de mesa a levar o tabuleiro?!

– Obrigado, senhor McKee, é muito simpático da sua parte – disse ela. – Mas todos os colegas já me estão a ajudar tanto...

– Não há problema – interrompeu-a Logan, pousando o tabuleiro sobre a mesa e distribuindo as bebidas. – Espero que gostem.

– Claro que sim – o senhor McKee bebeu um golo do seu daiquiri de banana. – Ah, que bom que está!

– Toma minha linda – disse a senhora McKee, entregando uma nota de cinquenta dólares à ruiva. – É pelo susto que apanhaste.

– Muitíssimo obrigado – disse ela – Nem sei como lhe agradecer.

– Nós é que temos que dar graças por ti! – o senhor McKee piscou-lhe um olho. – És um anjo e lamentamos muito termos estado a enlouquecer-te com os pedidos.

– Não, por favor...

– Obrigado – voltou a interromper Logan. – Espero que apreciem os vossos coquetéis – acrescentou, agarrando a empregada pelo braço para a encaminhar até ao outro lado do bar.

– Espere, tenho muito trabalho...

– Antes de mais, vamos conversar um minuto.

– Mas ouça lá... Quem julga que é?

– Sou o Logan Sutherland, o teu patrão – respondeu ele, olhando-a de cima a baixo. – Embora ache que não vou continuar a sê-lo por muito mais tempo.

 

 

Grace fez uma careta. Que azar o patrão estar presente mesmo quando deixa cair um tabuleiro cheio de bebidas.

Antes de ser admitida em Alleria, Grace andara a pesquisar sobre Logan e Aidan Sutherland na Internet. Sabia que tinham sido campeões de surf quando eram adolescentes e que tinham usado o dinheiro ganho para abrir clubes noturnos e bares por todo o mundo. Havia rumores de que tinham ganho o seu primeiro bar num jogo de póquer na universidade, mas Grace tinha a certeza de que isso não passava de um mito urbano.

A história mais recente sobre os irmãos Sutherland era que tinham unido forças com os primos, os irmãos Duke, proprietários de muitos resorts na costa Oeste.

Grace tinha visto fotografias dos Sutherland na Internet, dos dois irmãos em cima de uma prancha de surf, mas estavam desfocadas. Em nenhuma conseguira ver como eram bonitos, de perto. Pelo menos Logan.

O seu patrão deteve-se frente a uma porta no fundo do bar, que abriu com um cartão magnético antes de lhe fazer sinal para que entrasse. Era um escritório elegantemente mobilado com sofás e cadeirões cor de chocolate de um lado. Do outro, estava tudo o que era necessário a uma secretária do século XXI.

– É o seu gabinete? – perguntou-lhe Grace, admirando as espetaculares palmeiras, a areia branca e o mar azul turquesa que se viam pela janela.

– Bonita vista, não é? – disse o senhor Sutherland.

– Maravilhosa – respondeu ela. – Tem muita sorte.

– Sim, não é mau ser chefe – o sorriso de Logan deixou-lhe os joelhos a tremer.

Grace perguntou-se se devia ter comido mais alguma coisa além da barrita dietética e do sumo de manga. Isto porque nunca na vida lhe tinham fraquejado nas pernas.

Mas quando o encarou de novo, percebeu que iria ter de aprender a conviver com as pernas bambas. Logan Sutherland era alto e imponente, com uns olhos azuis-escuros e um brilho brincalhão... dirigido a ela, certamente.

Sabia que ele lhe ia dar um raspanete por causa do tabuleiro, mas não pôde deixar de admirar aqueles olhos brilhantes que pareciam ler-lhe os pensamentos, e o queixo quadrado com uma covinha no meio. Tinha o nariz ligeiramente torto e isso dava-lhe um ar malandro.

– Senta-te – disse ele bruscamente, apontando para uma das cadeiras à frente da secretária. Grace obedeceu mas ele ficou de pé, para a intimidar, sem dúvida. Mas ela não se importava. Se aqueles iam ser os seus últimos minutos nas Caraíbas, ao menos ia passá-los embasbacada a admirar o senhor Sutherland. Era um homem lindo e musculado, embora agora não tivesse visto mais músculos do que nas fotografias. Infelizmente, o impecável casaco cobria-lhe o corpo por completo, mas Grace sabia, pelas fotos que vira, que ele tinha um corpaço.

Antes de viajar até Alleria não tinha saído muito do laboratório, de maneira que nunca tinha visto um homem como ele. Tinha uns ombros tão largos que só lhe apetecia tocá-los...

Embora aquele pensamento fosse completamente ridículo.

– Tenho a impressão de que nunca trabalhaste como empregada de mesa. É assim?

Grace respirou profundamente. Não gostava de mentir, mas também não podia contar-lhe toda a verdade.

– Sim, assim é, mas...

– É tudo o que precisava de saber – interrompeu ele. – Estás despedida.

– Não! – exclamou ela. – Ainda não me pode despedir...

– Ainda? – repetiu Logan. – Por que não? Porque ainda não conseguiste partir todos os copos do bar?

– Não, claro que não. Mas é que... não posso voltar para casa.

– Como te chamas?

– Grace Farrell.

– Mentiste na tua candidatura de emprego, Grace.

– Como sabe que menti?

– Muito simples – Logan cruzou os braços. – Eu não contrato empregados de mesa sem experiência e é evidente que tu não a tens, de maneira que tiveste de mentir na entrevista.

– Senhor Sutherland, por favor dê-me outra oportunidade – suplicou Grace. – Tinha uma boa razão para mentir... bem, para não contar toda a verdade.

– Não me digas?

– Está disposto a ouvir-me?

– Sou um homem razoável – respondeu ele, deixando-se cair no sofá. – Mas explica-te depressa. Tenho muito que fazer.

– Já vai ver... – Grace pigarreou, desejando ter vestido mais do que um biquíni e um pareo que se atava por baixo do umbigo. – Você tem uns esporos...

– De que estás a falar? Não te percebo.

– Nesta ilha... há uns esporos muito raros... que um dia salvarão vidas. Sou investigadora científica e vim cá para os estudar – concluiu ela.

Logan olhou para o seu relógio.

– Boa tentativa, mas não funcionou. Estás despedida. Quero-te fora da ilha daqui a uma hora.

– Não, por favor – Grace levantou-se da cadeira. – Senhor Sutherland, o senhor não entende. Recuso-me a ir embora da ilha! Tenho que ficar aqui para trabalhar!

Logan abanou a cabeça.

– Parece que és tu quem não percebe.

– Sei que menti na entrevista, mas não posso sair da ilha até conseguir o que vim cá procurar.

 

 

Logan tinha que admirar a coragem de Grace Farrell. Aqueles olhos verdes tinham-se incendiado enquanto defendia com ardor seu posto de trabalho e não pôde deixar de perguntar-se se seria igualmente apaixonada na cama.

Desviou os olhos, imaginando-a nua na sua cama... mas a seguir abanou a cabeça. O que estava a fazer? Grace tinha mentido na entrevista de trabalho, tinha partido muitos copos e estava a fazê-lo perder tempo.

Mas aquela vívida imagem sexual tinha-o quebrado e ponderou uns segundos para reconsiderar a ideia de expulsá-la da ilha. Sim, era uma farsante, mas uma farsante linda de morrer. Por que não desfrutar de uns dias de sexo antes de a mandar embora?

A ideia parecia-lhe mais do que apetecível. Isso não significava que confiasse nela, mas a verdade era que o intrigava e o excitava. Não perdia nada por deixá-la falar mais uns minutos.

– Bom, fala-me desses esporos que estás tão ansiosa por encontrar – disse-lhe, aninhando-se no sofá.

Grace começou a caminhar pelo escritório, enervada.

– Os esporos de Alleria copiam os genes reprodutivos dos seres humanos e são essenciais para a minha investigação, que é sobre a réplica de genes. Há dez anos que trabalho neste projeto e, nestes últimos dois anos, tive de usar sempre os mesmos esporos. Preciso de encontrar esporos novos para arranjar fundos e poder continuar com a minha investigação.

– Réplica de genes?

– Sabe a que me refiro?

– Sim, claro. Bom, faço uma leve ideia.

– Ah, que bom – Grace levou uma mão ao peito. – Então compreende o importante que é para mim encontrar esporos novos. A minha tese sobre os seus padrões de reprodução tem despertado muito interesse e tenho a certeza que, graças a este estudo, um dia vai ser possível descobrir a cura para muitas doenças.

– Ah, sim? – Logan não percebia nada, mas não lhe apeteceu admiti-lo.

– Claro – respondeu ela. – Cheguei à etapa de concluir os estudos preliminares e pedi uma bolsa para continuar a pesquisa. É um trabalho importante, senhor Sutherland, mas preciso de esporos novos e preciso deles o mais depressa possível.

– Estou a ver – disse ele. Embora, pelo tom, se percebesse que não estava a entender nada.

– Sou investigadora, e muito boa, senhor Sutherland. Mas preciso deste trabalho para continuar com a pesquisa. O seu resort é uma das poucas fontes emprego de nesta ilha.

– É a única fonte de emprego – esclareceu ele. – De modo que a razão pela qual mentiste na entrevista é que querias viver no resort, de borla, para estudares esses esporos.

– Sim, bem, mas...

– E pensaste que podias trabalhar como empregada de mesa.

– Pensei que seria mais fácil, mas a verdade é que...

– Que não és uma empregada de mesa.

– Não, não sou.

Logan encolheu os ombros mais uma vez.

– Tenho muita pena, mas estás despedida.

– Espere um momento! – Grace sentou-se ao seu lado no sofá, respirando agitadamente, o peito a subir e descer, a poucos centímetros de distância. Cheirava a... qualquer coisa exótica, uma mistura de laranjeira e jasmim. De perto podia ver que também tinha sardas nos ombros e sentiu um desejo absurdo de as tocar. – Será que não me ouviu? Não penso ir-me embora daqui.

– Podes reservar um quarto e estudar os esporos todos o tempo que quiseres. Mas não esperes que eu te pague os estudos.

– Mas...

Logan viu que estava com o lábio inferior a tremer. Não ia começar a chorar, pois não? Se o fizesse, então, chutava-a dali para fora ainda antes que conseguisse articular «esporo». Chorar era uma forma feminina de manipulação. Sabia-o por experiência própria.

– Não posso reservar um quarto, não tenho dinheiro. A única maneira de ficar na ilha é a trabalhar aqui.

– Não. Lamento.

– Muito bem – disse ela então, levantando-se, com uma expressão desafiante. – Então, durmo na praia, mas não me vou embora.

– Espera um momento. Ninguém dorme na minha praia – replicou ele, levantando-se ele também.

– Sua praia?

– Pois é – respondeu Logan. – Esta ilha é minha propriedade e eu digo quem fica e quem vai. Não quero vagabundas perto do resort.

– Eu não sou uma vagabunda – protestou ela, cruzando os braços. Estava a fazer beicinho, mas Logan devia admitir que gostava de passar a língua por aqueles lábios.

– Se dormires na praia, é isso que serás.

Grace respirou fundo, como se tentasse ganhar coragem.