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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Michelle Celmer. Todos os direitos reservados.

AVENTURA CLANDESTINA, N.º 1132 - junho 2013

Título original: A Clandestine Corporate Affair

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2980-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Oh, isso não era bom.

Ana Birch olhou com indiferença por cima do ombro para o deck superior do clube de campo, na esperança de que o homem com o blusão de pele escura a olhasse, enquanto rezava para se ter enganado. Pensou que quiçá fosse só parecido com ele. Durante meses após a ter deixado, tinha visto as suas feições na cara de cada desconhecido: os olhos sensuais e escuros e a sedutora curva dos seus lábios; via os seus ombros largos e o físico fibroso em homens pelos quais passava na rua. Então continha a respiração e o coração disparava-se. Nos dezoito meses que tinham passado desde que ele tinha posto fim à aventura que tinham mantido, não lhe tinha telefonado.

Finalmente viu-o junto do bar, com um copo na mão enquanto falava com outro dos convidados. Sentiu o coração oprimido e um nó na garganta. Não se tratava de nenhum engano dos seus olhos. Decididamente era ele.

Como lhe podia Beth fazer isso?

Acomodando melhor Max, o filho de nove meses, contra a anca, atravessou a relva impecável enquanto notava como os saltos se afundavam na terra macia e húmida. Cada vez que Max se mexia, deslizava para baixo.

Com as calças de ganga justas e as botas de cano alto, com o cabelo recém-pintado de vermelho-sereia, era a antítese das mães de sociedade que bebiam e alimentavam a sua vida social enquanto umas pressionadas babás perseguiam os seus filhos. Um facto que não passava desapercebido a ninguém; por onde quer que fosse seguiam-na olhares curiosos. Mas ninguém se atrevia a insultar a herdeira do império energético Birch, ao menos na cara, algo que para Ana se afigurava um alívio e uma irritação ao mesmo tempo.

Viu a sua prima Beth de pé junto ao castelo insuflado observando a sua pequena de seis anos, Piper, a menina dos anos.

Gostava de Beth como de uma irmã, mas nessa ocasião tinha-se excedido.

Então viu-os aproximar-se e sorriu. Nem sequer teve a decência de aparentar culpabilidade pelo que tinha feito, algo que não surpreendeu Ana. A própria vida de Beth era tão terrivelmente pacata e aborrecida que parecia obter prazer em imiscuir-se nos assuntos de outras pessoas.

– Maxie! – Beth estendeu os braços. Max gritou entusiasmado e lançou-se para ela e Ana entregou-lho.

– Por que está aqui? – inquiriu baixinho.

– Quem?

Beth fez-se de inocente quando sabia muito bem de quem lhe falava.

– Nathan.

Ana olhou por cima do ombro para Nathan Everett, presidente do ramo principal da Western Oil, de pé junto ao corrimão, com um copo na mão e exibindo um atrativo conservador e informalmente sofisticado fato como no dia em que Beth os tinha apresentado. Não era o seu tipo, no sentido de que tinha uma carreira de sucesso e carecia de tatuagens e de cadastro policial. Mas era um chefão na Western Oil, de maneira que tomar um copo com ele tinha sido o «corte de mangas» definitivo ao seu pai. Esse copo foram dois, depois três e quando lhe perguntou se a levava a casa, tinha pensado que era inofensivo.

Até ali a teoria era brilhante. Mas quando a beijou à sua porta, praticamente estoirou em brasa. Apesar do que levava a crer, não era a precoce gatinha sexual que as páginas de sociedade descreviam. Era muito seletiva com quem se deitava e nunca o fazia num primeiro encontro, mas podia-se dizer que o tinha arrastado para o interior da sua casa. E ainda que ele tivesse podido parecer conservador, decididamente sabia como comprazer uma mulher. De repente o sexo tinha cobrado um novo sentido para ela. Já não se tratava de desafiar o seu pai. Simplesmente, desejava Nathan.

E apesar de se supor que só ia ser uma noite, ele não parou de lhe ligar e descobriu que lhe era impossível resistir. Quando a deixou, estava loucamente apaixonada por ele. Para não mencionar que também estava grávida.

Nathan olhou na sua direção. Ana ficou presa nesse olhar penetrante. Um calafrio arrepiou-lhe a penugem dos braços e da nuca. Depois o coração começou a bater-lhe depressa à medida que a percorria essa sensação familiar e o rubor invadia-lhe o pescoço e as faces.

Desviou a vista.

– Era colega de quarto do Leo na universidade – explicou Beth, fazendo cócegas a Max debaixo do queixo. – Era-me impossível não o convidar. Teria sido uma grosseria.

– Ao menos poderias ter-me avisado.

– Se o tivesse feito, terias vindo?

– Claro que não! – tê-lo tão perto de Max era um risco que não se podia permitir. Beth sabia muito bem o que sentia a esse respeito.

Esta franziu a testa enquanto sussurrava:

– Quiçá pensei que já era hora de que deixasses de te esconder dele. Mais tarde ou mais cedo a verdade vem à tona. Não achas que é melhor agora do que mais tarde? Não achas que ele tem direito de saber?

No que a Ana dizia respeito, ele jamais poderia conhecer a verdade. Além disso, tinha-lhe deixado bem claro o que sentia. Ainda que ela lhe importasse, não estava no mercado para uma relação séria. Carecia de tempo. E ainda que o tivesse, não o beneficiaria ser visto com a filha de um concorrente. Representaria o fim da sua carreira.

Era a história da sua vida. Para o seu pai, Walter Birch, dono da Birch Energy, a reputação e as aparências tinham sempre significado bem mais do que a sua felicidade. Como se soubesse que tinha mantido uma relação com o presidente da sucursal principal da Western Oil, e que esse homem era o pai do inesperado neto que lhe tinha chegado, vê-lo-ia como a traição definitiva. Já tinha considerado uma vergonha que tivesse um filho fora do casamento, e tinha-se mostrado tão furioso quando não lhe quis revelar o nome do pai, que tinha cortado toda a comunicação com ela até que Max tinha feito quase dois meses. A não ser pelo fideicomisso que lhe tinha deixado a sua mãe, Max e ela teriam terminado na rua.

Durante anos tinha-se regido pelas regras do seu pai.

Tinha feito tudo o que ele lhe tinha pedido, interpretando o papel da sua perfeita princesinha na esperança de ganhar os seus elogios. Mas nada do que fazia era demasiado bom, de maneira que quando ser uma boa menina não a levou a nenhuma parte, tornou-se numa menina má. A reação negativa foi melhor do que nada. Ao menos durante um tempo, mas também terminou por se cansar desse jogo. No dia em que soube que estava grávida, pelo bem do bebé soube que tinha chegado o momento de crescer. E apesar de ser ilegítimo, Max tinha-se convertido na menina dos olhos do avô. De facto, este já fazia planos para que um dia Max dirigisse a Birch Energy.

Se o seu pai soubesse que o pai era Nathan, por simples despeito deserdá-los-ia a ambos. Como ia negar ao seu filho o legado que era seu e lhe correspondia?

Em parte, essa era a razão pela qual era melhor que Nathan jamais apurasse a verdade.

– Só quero que sejas feliz – disse Beth, entregando-lhe Max, que tinha começado a mostrar de forma sonora que tinha saudades dela.

– Levo o Max para casa – disse Ana, acomodando-o de novo contra a anca. Não achava que após todo esse tempo, Nathan se tentasse aproximar. Desde que se separaram, nem uma só vez tinha tentado contactar com ela. Tinha desaparecido.

Mas não pensava correr o risco de dar de caras com ele por acidente. Ainda que pensasse que não tivesse nada a ver com o seu filho.

– Depois ligo-te – disse a Beth.

Estava a ponto de dar meia volta quando nas suas costas ouviu a profunda voz de Nathan.

– Senhoras.

Por um momento o seu pulso parou e depois acelerou-se.

«Bolas». Estancou de costas para ele, sem saber muito bem o que fazer. Deveria fugir? Virar-se e encará-lo? E se olhasse para Max e, simplesmente, percebesse? Resultaria demasiado suspeito fugir?

– Ora, olá, Nathan – disse Beth, dando-lhe um beijo na face. – Ainda bem que pudeste vir. Lembras-te da minha prima, Ana Birch?

Ana engoliu em seco ao virar-se, baixando o gorro de lã de Max para cobrir a pequena madeixa loira por trás da orelha esquerda do seu, de resto, cabelo espesso e castanho. Um cabelo como o do seu pai. Também tinha a mesma covinha na face esquerda quando sorria e os mesmos olhos castanhos cheios de sentimento.

– Olá, Nathan – cumprimentou, engolindo o medo e a culpabilidade. «Ele não te queria», recordou. «E não teria querido o bebé. Fizeste bem». Tinha de ter ouvido falar da sua gravidez. Tinha sido o tema preferido da alta sociedade de El Paso durante meses. O facto de que jamais questionasse se ele era ou não o pai revelava tudo o que queria saber: que não queria saber.

A fria avaliação a que a submeteu, a falta de afeto e ternura no seu olhar, indicou-lhe que para ele só tinha sido uma distração temporária. Desejou poder dizer o mesmo, mas nesse momento tinha saudades dele da mesma forma, almejava sentir esse elo profundo que jamais tinha sentido com outro homem. Cada fibra do seu corpo lhe gritava que era ele e teria sacrificado tudo para estar com ele. A sua herança, o amor do seu pai... ainda que nem por um momento achasse que Walter Birch amasse alguém que não fosse ele próprio.

– Como estás? – perguntou ele.

A Ana pareceu-lhe que, no melhor dos casos, era um tom cortês e de conversa superficial. E pouco mais fez do que olhar para o seu filho.

Decidiu adotar o mesmo tom cortês, apesar de que as entranhas se lhe retorciam por uma dor que após todo o tempo passado ainda lhe rasgava o mais profundo do seu ser.

– Muito bem, e tu?

– Ocupado.

Não duvidava. A explosão na Western Oil tinha representado uma grande notícia. Tinha tido páginas de imprensa negativa e mensagens publicitárias desfavoráveis... cortesia do seu pai, naturalmente. Como presidente da sucursal principal, era responsabilidade de Nathan reinventar a imagem da Western Oil.

– Bom, se me dão licença – disse Beth, – tenho de ir ver o bolo – e desapareceu sem aguardar resposta.

Esperou que Nathan também se fosse embora. Mas escolheu esse preciso momento para conhecer o seu filho, que se remexia inquieto, ansioso por atenção.

– É teu filho? – perguntou-lhe ele.

– É o Max – respondeu, assentindo.

O vestígio de um sorriso suavizou a expressão de Nathan.

– É lindo. Tem os teus olhos.

Max, que era um sabichão para captar quando se falava dele, gritou e agitou os braços. Nathan pegou-lhe na mãozinha e os joelhos de Ana converteram-se em gelatina. Pai e filho, estabelecendo contacto pela primeira vez... e, com sorte, a última. De repente uma torrente de lágrimas queimou-lhe os olhos e uma aguda sensação de perda atravessou-lhe todas as defesas. Precisava de sair dali antes de cometer uma estupidez, como soltar a verdade e converter uma má situação numa catástrofe.

Pegou no pequeno contra ela, algo de que Max não gostou. Gritou e remexeu-se, agitando os bracinhos com frenesim e fazendo com que o gorro de lã lhe caísse da cabeça.

Antes de o poder apanhar, Nathan agachou-se e apanhou-o da relva. Ana passou a mão ao redor da cabeça de Max na esperança de lhe cobrir a marca de nascimento, mas quando Nathan lhe entregou o gorro, não lhe restou outra alternativa a não ser retirá-la. Situou-se de tal maneira que ele não pudesse ver a cabeça do pequeno, mas ao alongar o braço para o gorro, Max gritou e lançou-se para Nathan. Escorregou sobre o seu casaco de seda e esteve a ponto de que se lhe escapasse. O braço de Nathan saiu disparado para o segurar no momento em que ela conseguia voltar a prendê-lo e, com o coração desbocado, o colava ao seu peito.

– Bom, foi agradável voltar a ver-te, Nathan, mas já estava de saída.

Sem aguardar uma resposta, voltou-se, mas antes que pudesse dar mais de um passo, a mão de Nathan fechou-se sobre o seu antebraço. Ela sentiu-a como uma descarga de eletricidade.

– Ana?

Blasfemou para dentro e voltou-se para olhá-lo. E assim que viu os seus olhos, pôde ver que sabia. Tinha-o deduzido.

E então? Tinha deixado bem claro que não queria filhos. Provavelmente, nem sequer se importava que o bebé fosse seu, conquanto ela aceitasse não o contar jamais a ninguém nem solicitar a sua ajuda. Coisa de que não precisaria, já que o fideicomisso lhes permitia viver muito bem. Nathan poderia seguir em frente com a sua vida e fingir que jamais tinha sucedido.

Com suavidade, Nathan alçou a mão e acariciou a carita do seu filho, virando-lhe a cabeça para poder ver por trás da orelha do pequeno. Pensando que se tratava de um jogo, Max agitou a mão e agitou-se nos braços de Ana.

Ao ver como empalidecia, compreendeu que sabia e não o esperava. Nem sequer tinha considerado semelhante possibilidade remota.

– Falamos em privado? – perguntou com a mandíbula tensa e os dentes apertados.

– Onde? – encontravam-se numa festa com pelo menos duzentas pessoas, a maioria das quais sabiam que os dois teriam muito de que falar. – Sem dúvida não quererás que te vejam com a filha de um competidor direto – soltou com uma voz tão cheia de ressentimento acumulado que mal a pôde reconhecer. – Que pensariam as pessoas?

– Diz-me uma coisa – murmurou ele. – É meu?

Quantas vezes tinha imaginado esse momento? Tinha ensaiado a conversa milhares de vezes; mas uma vez tornada realidade, tinha tido uma branca.

– Responde! – ordenou ele em tom perentório.

Não lhe restava outra opção senão contar-lhe a verdade, mas só pôde assentir com rigidez.

– Tenho de supor que jamais mo pretendias contar? – perguntou ele com os dentes apertados.

– Para te ser sincera – ergueu o queixo em gesto de desafio com o fim de ocultar o terror que a assolava por dentro, – não pensei que te importasses.