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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Harlequin Books S.A. Todos os direitos reservados.

O JARDIM SECRETO, Nº 1487 - Setembro 2013

Título original: The Lone Wolfe

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3393-7

Editor responsável: Luis Pugni

Imagens de capa:

Homem: KONRADBAK/DREAMSTIME.COM

Jardim: MATTHEW COLLINGWOOD/DREAMSTIME.COM

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Os Wolfe

 

Uma dinastia poderosa em que os segredos e o escândalo nunca dormem.

 

A dinastia

Oito irmãos muito ricos, mas que não têm a única coisa que desejam: o amor do pai. Uma família destruída pela sede de poder de um homem.

 

O segredo

Perseguidos pelo passado e obrigados a triunfar, os Wolfe espalharam-se por todos os cantos do planeta, mas os segredos acabam sempre por ser descobertos e o escândalo está prestes a rebentar.

 

O poder

Os irmãos Wolfe tornaram-se mais fortes do que nunca, mas escondem corações duros como o granito. Diz-se que inclusive a mais negra das almas pode sarar com o amor puro. No entanto, ainda ninguém sabe se a dinastia conseguirá ressurgir.

 

 

Para as minhas companheiras escritoras desta série. Obrigada por tornarem isto tão divertido!

Capítulo 1

 

A mansão Wolfe era apenas um vulto escuro, ao longe, quando o táxi de Mollie Parker parou à porta da quinta.

– Para onde vamos agora, menina? – perguntou o motorista, virando a cabeça. – As portas estão fechadas.

– É o que parece – Mollie endireitou-se. Estava encostada às malas, cansada por causa do voo e adormecera com o calor do táxi. – Que estranho, há anos que não estavam fechadas.

Encolheu os ombros. Estava demasiado cansada para avaliar a situação. Talvez alguns vândalos da zona tivessem atirado pedras às janelas que restavam e a polícia se tivesse visto obrigada a fechá-las.

– Não importa – afirmou Mollie, tirando umas notas da carteira. – Pode deixar-me aqui. Posso fazer o resto do caminho a pé.

O taxista parecia cético, pois não havia nem uma luz naquele lugar, mas encolheu os ombros e aceitou o dinheiro que Mollie lhe oferecia, antes de a ajudar a tirar as duas velhas malas do táxi.

– Tem a certeza, menina? – perguntou.

– Sim, a minha casa fica perto daqui – Mollie apontou para a sebe alta que flanqueava as portas. – Não se preocupe, conseguiria encontrar o caminho de olhos fechados.

Percorrera a distância entre a casinha do jardineiro e a mansão muitas vezes, quando Annabelle vivia lá. A amiga mal saía da quinta e Mollie, a filha do jardineiro, fora um dos seus poucos contactos com o mundo.

Contudo, já há muito tempo que Annabelle se fora embora, tal como os irmãos. Jacob, o mais velho de todos, começara o êxodo quando virara as costas à família, aos dezoito anos. Deixara a casa da família, que começara a ir abaixo lentamente, sem pensar em quem poderia envelhecer com ela.

Mollie afastou aqueles pensamentos. Pensava assim por causa do cansaço. O voo de Roma atrasara-se várias horas, mas quando o táxi se foi embora e ficou sozinha na escuridão, sem a luz da lua para lhe iluminar o caminho, apercebeu-se de que não era apenas a fadiga que despertava antigas lembranças e velhos sentimentos.

Depois de seis meses a viajar pela Europa, seis meses que reservara egoistamente para si e para o seu próprio prazer, regressar a casa era difícil. Vivera sozinha na mansão Wolfe, há muito tempo.

«Contudo, não ficarei muito tempo», pensou, com determinação. Arrumaria as últimas coisas do pai e encontraria um lugar na vila, ou talvez na aldeia mais próxima. Um lugar pequeno, limpo e alegre, sem lembranças, nem remorsos. Pensou no caderno que tinha na mala, onde estavam todas as suas ideias de paisagismo, uma vida cheia de energia e pensamentos que só esperavam que lhes desse asas. E fá-lo-ia, em breve.

Alisou o bonito casaco que comprara em Roma e as calças de ganga justas que não costumava usar. As botas italianas de pele, que lhe chegavam ao joelho, ainda lhe pareciam estranhas. Ela costumava usar botas de borracha. A roupa, tal como o caderno das ideias, faziam parte da sua nova vida. Do seu novo «eu».

Sorrindo, com decisão, Mollie arrastou as malas até ao muro de pedra que separava a mansão do resto do mundo. A sebe alta encontrava-se com o muro no ângulo adequado e, embora fosse densa e espinhosa, Mollie conhecia cada centímetro. Conhecia cada hectare da quinta dos Wolfe, apesar de não lhe pertencer. Só estivera dentro de casa algumas vezes, que era um lugar muito triste, e Annabelle quase sempre preferia o calor da casinha do jardineiro, mas conhecia aquela terra como a palma da sua mão.

Sentia que era dela.

A meio da sebe, encontrou a entrada que sempre fora o seu segredo. Ninguém, nem sequer os rapazes da vila que se atreviam a aproximar-se de lá, conhecia aquele pequeno acesso escondido.

Deslizou pela abertura da sebe e dirigiu-se para casa.

A casinha do jardineiro estava escondida atrás de outra sebe alta, ou seja, ficava completamente separada da casa principal. O pequeno jardim que a rodeava estava perdido na escuridão, mas Mollie pensou no quanto o mato teria crescido. Fora-se embora no inverno, quando estava tudo seco e coberto de lama gelada mas, a julgar pela fragrância das rosas que perfumavam o ar, soube que o seu jardim, o jardim do pai, voltara a ter vida.

Sentiu um nó na garganta. Mesmo na escuridão, conseguia imaginar o pai inclinado sobre as suas adoradas rosas, com o olhar perdido. O mundo mudara e seguira em frente. Henry Parker ficara preso nos confins decrépitos da sua própria mente até ao fim, que acontecera há sete meses.

Mollie engoliu em seco e procurou a chave. «Tenho de começar de novo», pensou. Novos planos e uma nova vida.

A casa cheirava a humidade, por estar fechada. Era o cheiro da solidão. «Devia ter pedido a alguém da vila para vir abrir as janelas», pensou, soltando um suspiro, mas a comunicação com os outros era difícil. Procurou o interruptor e ligou-o.

Não aconteceu nada.

Mollie pestanejou, na escuridão, interrogando-se se a lâmpada se teria fundido. Teria deixado as luzes acesas há seis meses, por acidente? Contudo, ao adaptar o olhar à escuridão, apercebeu-se de que não havia sinal de eletricidade na cabana. O relógio do forno estava apagado e o frigorífico não emitia o som familiar. Estava tudo em silêncio e às escuras.

Tinham cortado a luz.

Mollie gemeu. Ter-se-ia esquecido de pagar a conta? Devia ser isso, embora tivesse pagado adiantado, antes de ir de viagem. Talvez tivesse havido um problema burocrático, que a deixava agora na escuridão, quando a única coisa que queria era beber uma chávena de chá e deitar-se na cama.

Suspirou, afastou as malas da porta e foi à procura da lanterna que guardava na velha cómoda de pinho. Encontrou-a facilmente e acendeu-a, suspirando, agradecida, quando um feixe estreito de luz iluminou a escuridão.

Porém, o seu suspiro acabou em tristeza, quando apontou a lanterna para a casa. Estava tudo como devia: a mesa num canto, o sofá usado, o velho frigorífico... As botas do pai continuavam na entrada e cheias de lama. A visão era-lhe familiar e querida e, no entanto...

Estava tudo em silêncio. Vazio. Naquele momento, apercebeu-se de como estava sozinha. Sozinha na quinta Wolfe, com a casa principal vazia, a escassos cem metros dali. Estava sozinha no mundo, como órfã que era.

 

 

Jacob Wolfe não conseguia dormir. Mais uma vez. Estava habituado, recebia de boa vontade as insónias pois, pelo menos, era melhor do que sonhar.

Os sonhos eram das poucas coisas que não conseguia controlar. Apareciam sem aviso prévio e envenenavam-no com lembranças. Pelo menos, quando estava acordado, tinha autoridade sobre a sua mente.

Saiu do quarto e da mansão. Não queria deambular pelas divisões que encerravam tanta dor. «Não», corrigiu-se, recusando-se a evitar a verdade. «Não é que não queira, simplesmente, não consigo». Viver na mansão Wolfe durante os últimos seis meses, enquanto fiscalizava a reforma e a venda, fora um teste difícil.

E agora, enquanto o sono desaparecia e as lembranças ameaçavam apoderar-se dele, mais uma vez, teve medo de falhar.

Passou à frente dos quartos dos irmãos, vazios e abandonados, e obrigou-se a descer a escada em caracol, que era uma das joias da mansão Wolfe. Passou à frente do escritório onde, há dezanove anos, tomara a decisão de abandonar aquela casa, abandonar a família e abandonar-se.

Contudo, não podia fugir de si próprio.

Lá fora, o ar da noite era fresco e deu algumas baforadas enquanto procurava a lanterna que tinha no bolso das calças. As lembranças da mansão ainda ecoavam na sua mente.

«Era aqui que o meu irmão chorava até adormecer. Foi aqui que quase bati na minha irmã. Foi aqui que matei o meu pai», pensou.

– Basta! – exclamou Jacob, em voz alta.

Era um aviso. Nos últimos dezanove anos, desde que se fora embora da mansão Wolfe, aprendera a controlar o seu corpo e a sua mente. O corpo fora muito mais fácil. Um teste de força física era fácil, comparado com a mente. O controlo sobre a mente, com os seus sussurros sedutores e as suas brincadeiras cruéis, era difícil e tortuoso, sobretudo ali, onde os seus velhos demónios e o seu velho «eu» se elevavam para gritar que escapasse mais uma vez.

Os sonhos eram o pior, porque ficava vulnerável enquanto dormia. Durante anos, mantivera o velho pesadelo afastado e quase deixara de doer mas, desde o regresso à mansão Wolfe, o pesadelo voltara com mais força do que nunca. Jacob acendeu a lanterna e começou a andar.

Agora, conhecia a maior parte do jardim, porque se habituara a passear por ele à noite. Duvidava que tivesse passado por toda a propriedade Wolfe, mas os caminhos bem cuidados, que agora estavam desprezados, acalmavam-no. A ordem simples das flores, dos arbustos e das árvores acalmava-o.

Passeou. O ar refrescou-lhe a pele quente e deixou a mente em branco durante, pelo menos, uns instantes. Não pensou em nada.

«Reformar a mansão para a vender? Estás a fugir outra vez.»

A recriminação dura do irmão Jack ecoou na sua mente. Jack continuava zangado com ele, portanto, Jacob já o esperava. Entendia-o. Vira a expressão de dor e deceção nos olhos de todos os irmãos, quando se tinham reencontrado, embora lhe tivessem perdoado. Reconciliara-se com todos, exceto com Jack e, embora se tivesse preparado para aceitar o mal que causara, não se apercebera de como ia doer.

O arrependimento e a culpa que afastara tinham ressurgido e ameaçavam consumi-lo, ao ponto de não conseguir pensar em nada, nem sentir nada. Abandonara os irmãos e, embora tivesse aceitado aquele facto há muito tempo, a dor e a confusão nos seus rostos fez com que sentisse a velha culpa.

Onde estava o seu prezado controlo? Jacob parou, porque captou algo pelo canto do olho. Virou a cabeça.

Luz. Uma luz filtrava-se por entre as árvores, dançando entre as sombras. Os vândalos adolescentes teriam voltado a entrar e teriam acendido uma fogueira no bosque? O fogo poderia descontrolar-se facilmente.

Dirigiu-se com passo firme para o bosque que separava o jardim, que antigamente era cuidado, da zona selvagem. Parou quando saiu de entre as árvores e apareceu noutro jardim, mais pequeno, que não conhecia. No centro, havia uma casinha de pedra, com uma torre em miniatura. A lareira estava acesa e iluminava as janelas com a sua luz cintilante.

Jacob não se recordava da existência daquela edificação, mas não havia dúvida de que estava dentro da sua propriedade. Tal como o intruso que estava lá dentro. O sonho de que acabara de escapar ainda permanecia nos lugares mais recônditos da sua mente e alimentou a fúria que o fez dirigir-se para aquela casa.

Parou à frente da porta e abriu-a com um pontapé.

Ouviu primeiro um grito, curto e controlado. Pestanejou na penumbra do salão e apurou lentamente a vista. Havia uma mulher à frente da lareira, inclinada enquanto atiçava o fogo. A luz das chamas dançava no cabelo dela, que adquirira a mesma cor das chamas.

A mulher levantou-se, segurando um pedaço de lenha. Uma arma.

Uma arma que, claro, não era uma ameaça. Com quase vinte anos de treino em artes marciais, Jacob sabia que conseguia desarmar a intrusa numa questão de segundos, mas não queria magoá-la. Não voltaria a magoar ninguém.

Deslizou o olhar pela mulher. Não era o que esperava. O cabelo acobreado caía-lhe pelas costas como uma cascata selvagem e tinha pele muito branca. Usava um conjunto elegante, que não parecia adequado para a vida no campo.

O que estava a fazer ali?

Os olhos da jovem, que já estavam esbugalhados de espanto, esbugalharam-se ainda mais e deixou cair o pedaço de madeira.

– Jacob?

 

 

Mollie não reconhecera Jacob Wolfe quando entrara pela porta, como um louco saído de um filme de terror. Só gritara uma vez. Interrompera abruptamente o grito, quando se apercebera do que se passava. Jacob Wolfe, o dono da mansão Wolfe, regressara. Estava mais velho, claro, e mais forte. Tinha os músculos de um homem. Apesar do choque, Mollie reparou no modo como a t-shirt cinzenta e as velhas calças de ganga se ajustavam ao corpo poderoso. Tinha o cabelo despenteado e um pouco comprido, e tinha o olhar frio e escuro. Segurava uma lanterna na mão e apontava-a diretamente para ela.

Era impossível. Fora-se embora e até talvez estivesse morto. Desaparecera numa tarde, deixando os sete irmãos com o coração partido. Não se soubera nada dele durante quase vinte anos. E, de repente, ali estava ele. Ali mesmo. E enquanto olhava para ele fixamente, sentiu uma mistura confusa de emoções. Surpresa, alívio e até uma alegria estranha. E, de repente, sentiu uma pontada profunda de raiva. Vira como a partida de Jacob afetara os irmãos. De longe, fora testemunha da sua dor. Também a afetara. Nos anos longos e solitários que tinham passado desde que ele se fora embora, Mollie questionara-se se a ruína da mansão e do jardim teriam acelerado a descida veloz do pai para a demência. Muitas vezes, interrogara-se o que teria acontecido se Jacob tivesse ficado, se todos os Wolfe tivessem ficado e continuado a cuidar da casa e dos jardins.

Contudo, já era demasiado tarde. O pai estava morto, todos os Wolfe se tinham ido embora e a mansão estava em ruínas. Jacob voltara e Mollie não sabia se se alegrava com isso. Ao vê-lo ali e observar o rosto frio, belo e carente de emoções, sentiu como a amargura voltava a ocupar um espaço no seu coração e na sua mente.

– Conheces-me? – perguntou ele, sem indício de emoção.

Mollie deixou escapar uma gargalhada seca.

– Sim, conheço. E tu conheces-me, embora esteja bem claro que não te lembras de mim. Sei que sou fácil de esquecer – aquilo era duro.

Vira os irmãos Wolfe a brincarem juntos e, em algum canto do seu coração infantil, sentia-se ciumenta. As vidas deles estavam destruídas pela infelicidade, pelo desespero, quem não sabia isso? Porém, pelo menos, sempre se tinham tido uns aos outros... Até Jacob se ir embora.

Jacob semicerrou os olhos e deslizou o olhar pelo salão desordenado. As malas ainda estavam ao lado da porta e Mollie apercebeu-se de todas as coisas que não deitara fora antes se ir embora, pois não estava pronta para o fazer. O cachimbo e o saco de tabaco do pai em cima da lareira, o casaco pendurado na porta... Até o correio do pai estava em cima da mesa. Publicidade, contas e cartas que ninguém responderia.

– És a filha do jardineiro.

A indignação embargou Mollie.

– Chamava-se Henry Parker.

Jacob olhou para ela com olhos frios e cinzentos.

– Chamava-se?

– Morreu há sete meses – respondeu, com tensão.

– Lamento – Jacob desviou o olhar para as malas. – Acabaste de regressar?

– Estive em Itália – Mollie apercebeu-se do que ele devia estar a pensar. O pai morria e ela fugia para Itália, mas recusou-se a explicar. Jacob Wolfe podia pensar o que quisesse.

– Entendo. E porque voltaste?

Não era uma pergunta, parecia ser uma acusação.

– Porque esta é a minha casa – respondeu Mollie. – É a minha casa, desde que nasci. Talvez tenhas fugido da mansão Wolfe, mas isso não significa que os outros tenham feito o mesmo.

Jacob ficou tenso e muito quieto. Mollie sentiu a raiva latente, como um calafrio. Depois, ele relaxou e arqueou uma sobrancelha, exibindo uma expressão de desprezo.

– A mansão Wolfe é a tua casa? – inquiriu, com uma doçura perigosa.

Mollie sentiu a fúria a percorrer-lhe as veias.

– Sim e sempre foi – afirmou. – Mas não te preocupes – apressou-se a dizer, antes de ele conseguir responder. – Não vou ficar muito tempo. Só vim buscar as minhas coisas.

Jacob cruzou os braços.

– Muito bem – e olhou à sua volta. – Isso não deve demorar muito tempo.

Mollie ficou boquiaberta, ao perceber o que estava a tentar dar a entender.

– Queres que me vá embora já?

– Não sou tão desumano como possas pensar – indicou Jacob, com frieza. – Podes ficar e passar a noite.

Mollie engoliu em seco.

– E depois?

– Isto é propriedade privada.

Ao olhar para ele naquele momento, com aquela expressão tão distante e cruel, toda a dor que acumulara contra Jacob Wolfe regressou à sua mente.

– Oh, entendo – replicou, num murmúrio. – Não tens espaço suficiente na mansão. Também precisas desta casinha.

– É propriedade privada – repetiu Jacob, sem variar o tom.

– Era a minha casa – corrigiu ela, num tom trémulo. – E a casa do meu pai. Morreu na cama que há lá em cima.

Travou as palavras e a lembrança, pois não queria partilhar nada com Jacob. Não queria que tivesse pena. Para além dos quatro anos que passara a estudar, aquele fora o seu único lar. Doía-lhe o coração, por saber que Jacob Wolfe queria expulsá-la, sem pensar duas vezes, tendo em conta que o pai teria dado a vida pela família Wolfe.

Não podia protestar. Vivera ali durante anos, sem pagar renda, e Jacob tinha razão, era propriedade privada. Nunca fora dela. Crescera com aquela certeza e conseguiria suportá-lo. Engoliu em seco e ergueu o queixo.

– Está bem. Preciso de um pouco de tempo para arrumar as coisas do meu pai, mas a casa é toda tua – custava dizê-lo e fingir que não se importava, mas fez um esforço para olhar para ele nos olhos. Só estava a apressar os seus planos, mais nada.

Jacob continuou a olhar para ela.

– Tens para onde ir?

– Vou arrendar alguma coisa na vila.

– E o que vais fazer? Tens trabalho?

Mollie mordeu o lábio.

– Tenho um negócio de jardinagem – admitiu, contrariada. – Mas quero ampliá-lo, para incluir paisagismo e projetos de jardins.

– Ah, sim? – Jacob arqueou as sobrancelhas, enquanto assimilava a informação. Depois, assentiu como se tivesse tomado uma decisão. – Bom, nesse caso, talvez possamos chegar a um acordo que nos beneficie mutuamente.

Mollie ficou a olhar para ele, sem entender a que se referia.

– Se queres ficar nesta casa – continuou Jacob, – podes ganhar este teto. Trabalharás para mim.